quinta-feira, 22 de julho de 2010

OBSERVAÇÂO DE UM AMIGO

Ontem, em uma reunião política que aconteceu na cidade de Nazaré das Farinhas, uma observação feita por um querido amigo, reportou-me, imediatamente, ao passado, exatamente à l968, quando, então, em lua de mel, fui conhecer as Minas Gerais, mais precisamente uma cidade chamada São Gotardo, que sequer constava no Mapa do Brasil da época e que estava a cerca de 330 quilômetros da capital, Belo Horizonte.
Naquela época, não havia asfalto na estrada principal de acesso e ainda me lembro que foi a minha primeira experiência em estrada de terra e, consequentemente, pensei que iria sucumbir com todo aquele poeirão vermelho, que exigiu antecipada vedação de três das quatro portas de nosso veículo.
Um verdadeiro horror, pensei na época, calada, para não magoar meu marido que, meu Deus, ninguém merecia nascer em um local tão atrasado.
Qual foi minha surpresa, ao constatar quando adentramos na cidadezinha que as ruas eram calçadas, as casas pintadinhas e, em sua maioria, com jardins bem cuidados.
Nos dias que se seguiram, pude conhecer a praça ornada com árvores e belos canteiros, onde inúmeras vezes sentei-me tomando sorvete e observando aquele povo simples, acolhedor, mas que me pareceu fora do mundo, afinal, eu havia saido do Rio de Janeiro com uma diferença cultural absurda.
Prestei muita atenção nas calçadas sempre limpas e, incrível, não se via lixo em nenhum local, aliás, bem diferente do Rio, que naquela época já se encontrava em uma maratona de combate ao SUJISMUNDO, campanha que ficou famosa com repercussão por todo o país.
Meu marido, levou-me para conhecer a escola em que havia estudado até completar o antigo ginásio. Era uma construção bem antiga de estilo colonial - paredes imaculadamente brancas com janelas pintadas de azul escuro - se destacava e era orgulho de todos na cidade, pelo ensino que era de primeira, pela merenda que era sempre especial, pelas professoras que se tornavam eternas nas lembranças de seus alunos, na dignidade que incentivava a todos.
Pois é... tantos e tantos anos depois, constato com tristeza que a minha querida Itaparica, linda por natureza, tão próxima de uma capital, abastecida de todos os meios existentes de informações tecnológicas, se encontra mil vezes mais atrasada, desinformada, abandonada e sem viço que aquela cidadezinha que me pareceu tão arcáica há quarenta e dois anos atrás.
Então, meu doce e querido amigo, você teve razão ao me confidenciar que em Nazaré das Farinhas existia uma maior conscientização de cidadania.
Aproveito, neste instante, para lhe dizer que percebi o seu olhar distante e seu tom lamentoso, ao constatar o quanto nossa cidade parou como reflexo da inércia de seu povo, que infelizmente acostumou-se a viver sem perspectivas, banalizando com esta postura males sociais, carências existenciais.
Não há cidadania, porque não há cultura educacional, mesmo quando existe a formação acadêmica.
Por esta razão, paga-se IPTU, taxa de iluminação pública, taxa de recolhimento de lixo, quando não se tem:
* calçamento de rua;
* iluminação pública;
* transporte público;
* recolhimento de lixo;
* limpeza e manutenção das vias públicas;
* escolas de qualidade, com ensino também de qualidade;
* efetiva ação policial preventiva;
* Delegacia de Polícia operante;
* ações efetivas sociais;
* Postos de saúde dignos, funcionais e profissionalmente qualificados;
* fiscalizações de todos os níveis,
e etc. etc. etc...
Este é um crime hediondo, sem perdão, pois mata sonhos, direitos e deveres, matando em cada pessoa a sua ação paticipativa, nem que seja usufruindo com dignidade o seu também direito em se sentir respeitado.

2 comentários:

  1. Que excelente artigo, peço que encaminhe para as autoridades do estado e para os nossos futuros deputados Neto e Bruno, assim como para o futuro governador Paulo Souto.
    Valeu, a pena da sua caneta está cada dia mais afinada e mais alinhada, parabéns, que sentimento verdadeiro!!! Todos os seus leitores viajaram...viajaram nesta lua de mel!!!
    BJ
    CN

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  2. Hoje estava pensando nos descontentamentos que vivencio, logo agora na hora que chega de escolhermos novo presidente...Questionava a banalização do voto, dos nossos políticos, e você trás um artigo tão revelador. O bonito em você é unir o Cosmos e o Microcosmos, com a mesma beleza e importância. Gostei da cidade mineira! Sou mineira também. PAZ!

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CHOVE LÁ FORA

 CHOVE LÁ FORA e com certeza, no meu coração também... Busco nas lembranças, quando, exatamente fomos adentrando na banalidade, fazendo dela...