Amanheci pensando ou melhor, lembrando das festas juninas de um passado ainda não muito distante, quando, a especulação do ganho fácil público nas contratações de artistas nacionais, ainda não tinha se assentado como norma, até mesmo, nas mais remotas cidades do interior deste nosso Brasil Varonil, descaracterizando a tradição.
Aqui mesmo em Itaparica, as famílias acendiam suas fogueiras nas portas de suas casas, transformando as ruas em celeiros de pura alegria.
O estalar das brasas, os quitutes próprios à ocasião, a euforia das crianças, o som das músicas caipiras e os trajes típicos, mantinham vivas, não só a cultura, mas um estreito e respeitoso relacionamento entre vizinhos.
Disputava-se a maior fogueira, a mesa mais farta e variada e a mais expressiva decoração da fachada e do muro, criando assim, um elo de preservação cultural.
Pois é, tudo isso se acabou, restando as bandeirinhas enfeitando as ruas principais, as concentrações musicais, geralmente sem qualquer maior vínculo com a data em si, arrastando a população para uma aglomeração sem alma, sem coração, sem história para dividir.
É, tudo mudou em nome do progresso, inclusive e principalmente, a convivência, a paz e a segurança, restando a ilusão da alegria, o barulho dos folguedos disparados de pontos específicos e as poucas quadrilhas juninas que se apresentam em sua maioria em quadras fechadas das cidades grandes, longe de uma possível integração ao lúdico infantil, mais preocupadas que estão, em ganharem a competição.
Bendita a minha e a sua geração do milho e da batata doce assados na fogueira ouvindo a mãe gritar, cuidado menino para não se queimar, do quentão, tomado as escondidas e das luzernas dos balões balançando ao vento, das cores inesquecíveis das bandeirinhas, mescladas aos fogos da inocência em nos sentirmos, apenas, criança.
Regina Carvalho- 20.6.2025 Itaparica
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