Enquanto, descascava os ovos cozidos e ainda quentes no bojo da pia da cozinha, pensei na fome e na gratidão, temas sempre usados por mim, em meus textos ao longo da vida, talvez, porque eu já havia tomado o meu pingado, comido ainda um pote de rica granola com yogurt, mas esfomeada, iria degustar dois ovos e pensar que eram apenas seis horas da manhã, portanto, pensar na fome alheia, seria inevitável para esta perseverante humanista, assim, como sentir-me grata pela fartura que sempre existiu em minha vida.
Sei que este é um assunto desagradável, apenas bom e aceitável, nos discursos político, mas irritante, quando abordado fora dos palanques, afinal, bem sabem o quanto, são responsáveis pela sua existência.
Há muito, não penso nas proporções da fome do país e no mundo, direcionando minha atenção, para a fome existente em minha Itaparica, bem ali, ao lado de nossos farturentos lares e cuja responsabilidade de sua desapiedosa presença, nos cabe, grande parte de sua existência, afinal, fingimos não a ver e, portanto, não nos colocamos em momento algum, no lugar delas para pelo menos, tentarmos mensurar seus sofrimentos, assim, como não nos juntamos para que, numa única só voz, gritemos CHEGA!!!
Penso com profunda tristeza, que quem nunca passou fome, jamais poderá mensurar seus efeitos devastadores no outro, assim, como ao fingir não vê-la, ainda a desconsidera apoiando políticos que descaradamente, desviam programas de amparo social e verbas da arrecadação pública e as empregam em si próprios, na manutenção escandalosa de uma vereança vendida e de valores públicos e pessoais falidos, assim, como mantendo lentamente omissos, os órgãos públicos fiscalizadores que a priori, deveriam ser defensores do povo, como tambem em obras "meia boca",
mas de impacto visual, festas de gostos duvidosos e num tudo mais, onde, só mesmo, o cansanção de Maria Felipa, mereceriam...
Questiono-me, será que viverei para ver o povo carente e sofrido, em algum momento, acordar do servilismo atávico e fazer das urnas, a sua redenção, botando pra correr os invasores e usurpadores do direito humano de se alimentar com normalidade?
Confesso, que tenho mais nojo dos canalhas oprimidos que passaram a oprimir na primeira oportunidade que lhes foi oferecida, que propriamente, daqueles, que tudo sempre tiveram.
Regina Carvalho- 05.08.2024 Itaparica
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