Pois é, neste amanhecer o céu está nublado e a chuvinha fina, traz consigo um friozinho gostoso que nos induz a permanecer na cama mais um pouquinho e aí, inevitavelmente no meu caso, já acordada, devido ao hábito de uma vida inteira, deixo a mente livre para pensar no que ela quiser e é claro, que safadinha, sempre busca algo que me remeta a escrever.
Neste amanhecer, a pauta sugerida foi a liberdade e sou levada a percorrer minha própria estrada de vida, reconhecendo que por uma generosidade que creio ter sido, uma contínua prenda de Deus, jamais conheci a falta desta bendita, afinal, nenhuma circunstância ou alguém, privou-me de fazer minhas próprias escolhas.
Claro que este meu jeito de viver, certamente, nem sempre agradou, afinal, sou de uma geração, onde pelo simples fato de ser mulher, já se carregava o peso dos muitos grilhões sociais, mas eu, a afoita Regininha, talvez, pelas energias universais com as quais fui moldada na infância e adolescência, sempre muito íntima da natureza e seus ricos e benditos ensinamentos, deles me alimentava e caladinha, segui rigorosamente os meus treinados sentidos que aguçados, forjaram em mim o senso dos limites.
E aí, vivi e ainda vivo, grandes experiências...
Neste instante, sentada próximo a janela, escrevo este texto e posso ouvir que a chuva engrossou, trazendo consigo uma rajada de vento bem friozinho que adentra no corpo, provocando em mim um delicioso arrepio e os aromas de terra e grama molhadas, fez saltar do âmago do jardim um poderoso aroma que me invade, fazendo com que meus dedos, deslizem pelo teclado bem mais suavemente.
Isso é felicidade e é justamente esta poderosa capacidade humana de sentir, que garante a contínua liberdade em ser e sentir a vida, afinal, todo o restante reagirá sempre como adendos vivenciais que vamos moldando aqui e acolá, mas jamais permitindo que venham nos tolher seja lá no que for, assim como não o fazemos em relação aos demais.
Ora somos águas mornas e tranquilas, ora ventos e arrepios, dualidade sempre presente, garantindo a nossa liberdade e autenticidade, além de fiéis e apaixonados pelas próprias escolhas.
Ser livre é saber reconhecer o que nos convém e não ter medo do sempre risco contido em cada opção, reconhecendo com precisão cirúrgica o céu e o inferno existencial.
Regina Carvalho- Texto escrito em 30.8.2022 Itaparica
OBS: Dois anos depois, o amanhecer também esta chuvoso e trazendo consigo, um friozinho gostoso.
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