Estou ouvindo uma seleção de Jazz suave dos anos 40/50 que simplesmente adoro e que representa mais fielmente o ambiente em que fui criada, num Rio de Janeiro bonito e elegante, o que contribuiu para que ao longo de minha vida, eu pudesse apreciar o mesmo em tudo quanto, pudesse vivenciar e não se enganem, afinal, não estou me referindo ao luxo comprado com dinheiro e ostentação de qualquer natureza, mas ao esplendido simples que meus olhos treinados, buscavam e encontravam, fonte contínua de minhas inspirações.
Talvez, seja esta razão das obras monumentais das Igrejas barrocas, as pirâmides do Egito e as muralhas da china, assim como tantas outras “maravilhas” criadas pela humanidade, jamais terem sido atrações para os desfrutes de meus olhos e consequentes paixões, afinal, as artes esculpidas a ouro, tintas e pedras, remetiam-me às dores humanas para as suas execuções, não as justificando em hipótese alguma para esta minha mente apaixonada pela maior criação da vida que é, justo, o homem em sua preciosa completude.
Todavia, reconheço que sou uma esquisita, na contramão da lógica dos sistemas, incapaz de inserir-me no contexto do belo fabricado, mesmo reconhecendo e respeitando o seu valor artístico, histórico e cultural, mas sempre colocando cada uma, aquém de quem as produziu, incapaz de desassociar delas, seus sacrifícios, dores que muitas vezes, resultaram na perda de suas vidas.
Milhares de vezes, perguntei a mim mesma, o porquê de não conseguir ser um pouquinho mais igual aos demais, no entanto, estes sucessivos processos investigativos pessoais, jamais foram capazes de me responderem e o que é pior, as respostas sempre vieram em forma de imagens de pessoas, lugares e obras excepcionais, mostrando-me a grandeza do homem em suas criações sem que houvesse a necessidade de inconsequentemente, matar-se, aleijar-se ou se deixar morrer, geralmente, pelos sonhos e aspirações de outros.
Sim, podem dizer que além de esquisita, sou ignorante, quando o assunto é a história da humanidade e sua evolução, mas aí, me pergunto; que evolução é esta que de tempos em tempos, esta mesma humanidade se dá ao direito de explodir pessoas indistintamente e o próprio planeta com as sandices de suas vaidades arrogantes e seu desejo incontido de se sentir Deus?
Regininha, hoje é domingo
“Minha mãe mandou bater neste daqui
Mas, como eu sou teimosa
Eu vou bater neste daqui
Hoje é domingo
Pede cachimbo
O cachimbo é de barro
Bate no jarro
O jarro é de ouro
Bate no touro
O touro é valente (o touro é valente?)
Machuca a gente
A gente é fraco
Cai no buraco
O buraco é fundo
'Acabou-se o mundo”
Cantigas de roda- Parlenda -palavra cantada
Texto- Regina Carvalho.
Regina Carvalho- 13.4.2025 Itaparica
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