Dirão que enlouqueci ou no mínimo, os primeiros sintomas da demência senil se mostram promissores.
Digo apenas, que, talvez o seja, já que não posso negar e tão pouco afirmar, afinal, tudo que sei é que ontem à noite, tão logo acabei de deitar-me e como sempre, prazerosamente, pois, deitar-me depois de um dia de vida, sempre foi uma sensação de estar ganhando um prêmio, provavelmente por esta razão, minhas noites de sono com raríssimas exceções que independeram de mim, foram completas e harmoniosas.
Posso inclusive, enquanto me acho a tal em tudo, lembrar-me do meu quarto de criança e adolescente, da larga cama com colchão de molas que se moldava aos movimentos de meu corpo e dos travesseiros que aninhavam minha cabeça, abrigando meus sonhos e como sempre os tive e os tenho, velho hábito que me ajudou no enfrentamento dos meus cotidianos que nem sempre se coadunaram com minhas expectativas.
Sou o que minha mãe, sem qualquer grau de psicologia nomeou, como uma “ Pomba lesa”, já que as praticidades dos cotidianos se perdiam em meio aos movimentos criativos de minha mente que os transformavam, eliminando qualquer sentido de cansaço e muito menos, tirando o brilho dos cenários criados por minha mente.
Ontem, diante do fato da máquina de lavar ter quebrado, justo, quando nela eu havia colocado as roupas de cama para serem lavadas, não me desesperei, tão somente, transferi tudo para o tanque e lavei peça por peça, sentindo o sol quentinho e vibrante em minhas pernas, enquanto, ouvia uma deliciosa música clássica, vinda do interior da cozinha. Tamanha paz, fez-me crer que a mesma, também era apreciada pelos filhotes de um certo bem-te-vi, que resolveu fazer o seu ninho em minha varanda, pertinho da lavanderia.
Depois, de um vigoroso banho no chuveirão do quintal, sentindo o mesmo sol, mesclando-se a água, somente, para o meu desfrute de prazer, almocei comendo exatamente o que queria e imaginando meus filhos e meu Roberto, torcendo em caretas as suas fisionomias, afinal, tratava-se de uma deliciosa dobradinha com linguiças calabresas que eles rejeitavam, mas que a mim, abasteceram de imenso prazer.
Pois é Regininha, mesmo sendo uma pomba lesa e sem rumo, o universo trouxe você a este este paraíso Itaparicano, precisando de muito pouco para ser feliz e se sentir “a tal”, que tudo pode e tudo tem, ainda mais, neste instante em que degustando um iogurt com granola e mel, ouve bem pertinho da janela, talvez, o mesmo bem-te-vi dos filhotes, lhe oferecendo um sonoro bom dia.
Então, olho o céu e não há sol, talvez, chegue mais tarde, afinal, ele sempre chegou em minha vida, nem que fosse através das inspirações adaptativas e amorosas, que me mantiveram focada nas sensações mentais e físicas de profundo orgasmo existencial, sempre grata e sorridente, afinal, brindes continuados de um Deus que me disseram que eu não poderia ver e nem tocar, mas que eu, caladinha sempre vi e toquei, através de mim.
Psiu, não contem pra ninguém, mas se isto é demência, que ela permaneça, mantendo meus delírios de vida com absoluta liberdade em sentir que sou, “a Tal”.
Regina Carvalho- 30.4.2025 Itaparica

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