quinta-feira, 17 de abril de 2025

PALANQUES DOS FODIDOS ...

Lindas foram as imagens que sobraram em minha mente de um dos sonhos que tive nesta noite, onde revi meu pai comendo com a “boca mais boa do mundo”, um pão francês com bife à milanesa, lanche noturno que ele apreciava muitíssimo, cujo prazer herdei, faltando apenas, a linda dona Hilda que carinhosamente os fritavam sequinhos e crocantes.

Bons tempos de uma infância e adolescência, vivenciadas na rua Barão da Torre, 577, onde a maresia chegava, trazendo consigo a harmonia que mantinha minha família unida e sorridente, mesmo sendo cada um de nós quatro, absolutamente diferentes, mesmo que minha mãe insistente, repetisse nos meus momentos de desobediência, que eu era muito igualzinha a meu pai.


Ao longo da vida, em muitos momentos, identifiquei-me com a sua espontânea irreverência, manias e fobias, como a de altura, avião, elevador, caseiro ao extremo e tantas outras características daquele homem que sem dúvidas, foi o meu maior amigo vida a fora, cujas referências, calçam até hoje, com firmeza o meu caminhar.

Com aquele homem grande, aprendi o valor da delicadeza de um aconchegante abraço amigo, assim, como a sinceridade sem hipocrisias em enxergar o real das coisas e das pessoas, sem preconceber críticas, quanto, aos seus valores humanos. Afinal, pra ele, tudo tinha uma razão de ser.

Viveu 86 anos de muitas gargalhadas e longos silêncios, sempre sentado em sua preferida poltrona, com os óculos na testa, as pernas cruzadas e um livro entre as mãos.

Pensando bem, minha mãe tinha razão, sempre fomos muito parecidos, até mesmo, na explicita paixão pela vida, gosto pela solitude e no inconformismo com o caráter dos políticos que já naquela época, era tão podre quanto, hoje, crendo que minha visão humanista, dele também herdei e, assim, como ele, penso que são todos uns psicopatas, disfarçados de bons samaritanos, pelo menos nos discursos astutos e mentirosos, mas também, como ele afirmava; “minha filha não se iluda com as aparências, pois, mesmo vestidos de ouro e prata, estão, todos fodidos”.

Que pena... 

Tudo poderia ser tão diferente...

Regina Carvalho- 17.4.2025 Itaparica 

"fodidos", que é um vulgarismo que pode ser usado para descrever algo ou alguém que está em situação ruim, danificado, ou com mau feitio".

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