Em que lugar deste meu país, posso te encontrar, se nos lares, nas ruas, nas leis e na política, és ave tão rara, que penso, ora desesperada, que já não mais existes...
Se vivo fosse, o baiano Castro Alves reescreveria uma nova versão do Navio Negreiro e de vozes D’África, descrevendo o degredo da moral e da ética, deste atual tempo, como causa perdida para uma nova e não menos dolorosa escravidão.
Choraria pelas mães e por seus filhos, que sem honra tombam nas calçadas de qualquer cidade, como vítimas ou algozes desta macabra visão de poder, pela falência do valor da vida que se confundi e se perde entre o crack e a cocaína, entre a loucura e a alienação.
Descreveria como mais ninguém o faria, o caos de uma justiça fraca e tendenciosa, lamentaria pelas polícias esfarrapadas e descredenciadas e por um tudo mais invertido, que faz valer como pêndulo de um suposto equilíbrio social, a corrosiva malandragem e o despotismo.
Verdes florestas são só lembranças de minha tropical terra, onde hoje, só é possível enxergar a devastação das queimadas, onde as fumaças do lucro fácil, faz tombar inocentes árvores, ressecando rios, rachando solos, destruindo vidas.
Onde dantes era verde, hoje, só se enxerga o vermelho do sangue de quem trabalha para nutrir a fome de quem explora.
Bom senso, onde estás que não te encontro?
Onde estás senhor Deus, que a tudo assistes e nada fazes?
Até eu, que te clamo, rogando a tua bendita interferência, confesso que ainda não cruzei meus braços rendida, justo, porque preciso te escrever, rogando teu sublime socorro, por ainda crer que existes...
Regina Carvalho-14.4. 2025 Itaparica
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