São sete horas desta manhã por enquanto, ainda acinzentada e com poucos pássaros desenhando com seus voos relativamente baixos, o espaço entre uma árvore e outra, enquanto, através da janela os aprecio e ouço um concerto de clássicos com solo de um esplendoroso violino, sentindo-me um pouco apática, mesmo tentando organizar em minha mente, as tarefas a serem cumpridas e, então, lembro que é feriado nacional e que o comércio em sua maioria, deve estar fechado.
Dou uma breve pausa na escrita e sei lá porquê, lembro que comecei a fumar cigarros aos 17 anos, afinal, era moda entre as jovens e eu, precisava ser descolada como eles e também, porque, depois, que provei, gostei.
Anos depois, cansada do cheiro dantes inebriante e que passara a ser sufocante e se incorporava nos meus cabelos, hálito e roupas, além de amarelar meus dedos, causava-me crises horrorosas de tosse que pareciam dar nós em meus pulmões, tentei inúmeras vezes, parar sem qualquer real sucesso.
Maldita seja a dependência, seja ela qual for...
Até que no dia 4/10/2003, num sábado ensolarado, já em Itaparica, sem crise ou qualquer outro mal estar, olhei para o meu mar sereno de Ponta da Areia e pensei; “não fumarei mais”.
Hoje, 22 anos depois, recordo agradecida a minha decisão, sustentada pela voraz vontade de viver toda aquela maravilha que diante de mim, impulsionava a minha mente a ser mais poderosa, que o vício que me matava lentamente a cada tragada.
Em todos esses anos, e aí, credito os méritos a Deus por eu, jamais ter me sentido tentada ou, me sentido ansiosa, ao contrário, dia após dia, tudo foi mudando, afinal, fui reconhecendo o meu cheiro que gostei demais da conta, a sentir o sabor real de cada alimento e a enxergar meus sentimentos sem qualquer fumaça, interna que os empanassem, fazendo valer o bônus que pago por ter perdido 53% da minha capacidade pulmonar, mas e daí, se estou viva e a cada dia mais apaixonada por esta Itaparica que tanto me inspira e que me permiti senti-la sem restrições.
Penso então, que desta minha vida, meio cigana, meio aventureira, só tenho que me perdoar por um dia, ter colocado entre meus lábios um cigarro, dando a ele, dali em diante, o poder de sabotar a originalidade do que os meus olhos de águia enxergavam e meu faro de onça detectava, assim, como de muitas formas, ter enfraquecido as asas do pássaro liberto que existia em mim.
Fazer o quê, né...
Provavelmente, fazendo o que faço, já que tiro a barriga da miséria, sorvendo e registrando com paixão cada detalhe da maravilhosa consciência de que estou simplesmente vivendo e que, absolutamente nada, pode empanar meus instantes de vida, presentes divinos, que são absolutamente meus.
Percebo que mesmo atrasado, o sol chegou translúcido, abraçando o jardim, iluminando-o e a mim também, como um abre alas para uma chuvinha rápida e refrescante que nutre, não me deixando esquecer que a vida é diversamente linda e que saber vive-la, é o maior aprendizado que se pode ter.
BOM DIA!!!
Regina Carvalho- 01.4.2025 Itaparica
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