Pois é, raro de acontecer, mas acontece neste instante em que busco em minha mente como faço diariamente e ela, simplesmente nem da bola, se fazendo de rogada.
Respiro fundo, mas longe do meu aconchego, não ouço os meus pássaros, nem o galo a distância, não tenho os perfumes de minhas frutas e nem de minha terra molhada pelo refrescante orvalho, as brisas não existem, deixando-me sem os deliciosos arrepios e tão pouco ouço o farfalhar dos coqueiros e minhas borboletas e sabiá desapareceram, restando o silêncio da cidade como um enorme vazio, levando-me a lembrar que, verdadeiramente pelo menos para mim, cidade grande jamais será o meu lugar para viver.
O fascínio das arquiteturas dos prédios e dos viadutos, antes de me aguçarem o desejo em vivencia-los, traz-me uma sensação de solidão, como se diante de mim, estivessem figuras inanimadas e soltas no espaço e enquanto, o carro desliza pelo asfalto aceleradamente, por quê, não entenderei jamais a razão de tanta pressa, já que é o homem que estabelece o uso do tempo, meus olhos tentam firmar em uma imagem que seja, que justifique viver-se em tamanha dicotomia com o próprio equilíbrio da estrutura física e mental da natureza humana.
Provavelmente sou uma alienada em não reconhecer as belezas atrativas de uma cidade cosmopolita, assim como a necessidade do homem em buscar movimentos e ações variadas por todo o tempo, mas se fosse assim tão fascinante, porque estariam tão perdidos e ávidos de um momento para simplesmente, quebrar as alucinantes rotinas e apenas, sentir a vida.
Por que estariam sempre extremamente enfadados, irascíveis, desconfiados e tensos, buscando alternativas pontuais que os compensem das agruras cotidianas ou simplesmente, matando ou morrendo de mil formas?
Dizem que de outro modo morreriam de tédio, mas de tédio eles acabam morrendo, pois não há nada mais dilacerante e estimuladora de doenças que condicionam a mente e esta o físico, que o tão somente seguir em frente, perdendo-se pelo trajeto as deliciosas pausas, onde os verdadeiros desfrutes se apresentam e de onde se é possível, apreciar-se o original e o belo.
Bem, já me convenci que há gosto para tudo que posso ou sequer tenha possibilidades de imaginar, mas convencer-me que existe alma na louca vida de uma cidade grande, tenho cá minhas mais profundas dúvidas, pois o primeiro aspecto que percebo nas pessoas que nelas residem é a falta da genuína espontaneidade, transformando-as em celeiros de escapes e fugas, numa tentativa sempre infrutífera de camuflar sua mais bela natureza, como se permitir deixar os demais enxerga-la, tal como é, fosse uma afiada faca a cortá-la ao meio.
E talvez o seja, já que é preciso competir por todo o tempo para sobreviver.
Percebo também que entre elas, vai se fortificando uma espécie de acomodação adaptativa que mais que recurso de um real equilíbrio na convivência, torna-se antes de tudo, uma simbiose que vai se desgastando como membranas entre ossos, ao longo do tempo., que inevitavelmente, dói e incapacita.
Observando no ontem e no hoje, tudo mudou assustadoramente, mas respeitando as diferenças evolutivas do tempo, ciências e tecnologias, mais me convenço de que é preciso muitas drogas, bebidas muitos falsos valores, muitas taras e infinidades de aspectos violentos, para que as pessoas extravasem ou sufoquem suas contínuas decepções, que são chamadas de ansiedade, transtorno, fobia, taras, fantasias ou em outros muitos nomes, mas que na mais pura das realidades, chama-se infelicidade frente a violentação que a mente e o corpo são submetidos pelas ações diretas e invasivas de um cotidiano absolutamente afrontoso.
Numa cidade grande, aprecio o belo que o homem é capaz de criar e produzir, assim como enxergo a frieza do cárcere que cada qual, constrói para si.
Falta apenas um dia, logo estarei de volta ao meu aconchego, aonde só preciso existir, sentindo e onde, terei de volta a minha bendita fonte de inspiração.
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