quarta-feira, 21 de outubro de 2020

POEMA 1 NERUDA

  Corpo de mulher, brancas colinas, brancas coxas, te parecem ao mundo em tua atitude de entrega. O meu corpo de campônio selvagem te escava e faz saltar o filho do fundo desta terra. Fui só como um túnel. De mim foram-se os pássaros e em mim a noite entrava com sua invasão poderosa. Para sobrevier-me te forjei como uma arma, como uma flecha em meu arco, como uma pedra em minha funda. Porém chega a hora da vingança, e te amo. Corpo de pele e de musgo, de ávido leite e firme. Ah os vasos do peito! Ah os olhos de ausência! Ah as rosas do púbis! Ah tua voz lenta e triste! Corpo de minha mulher, continuará em tua graça. Minha sede, minha ânsia sem limites, meu caminho indeciso! escuras rugas de onde a sede eterna segue, e segue a fatiga, e esta dor infinita.

Extraído do livro "Vinte poemas de amor e uma canção desesperada".

Pablo Neruda

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