Fico aqui pensando no quanto somos ao mesmo tempo orgulhosos e preconceituosos com tudo e todos ao nosso redor e, ao mesmo tempo, esbravejamos os nossos sentimentos, quando, somos nós os atingidos, numa crença autoritária, mesmo que fingidamente camuflada, de que somos vítimas do sistema, este, que nós mesmos criamos e alimentamos cada vez mais com a nossa sempre presente hipocrisia.
Aplaudimos e, simultaneamente, tudo fazemos para desvalorizar, mesmo que seja, e na maioria das vezes o é, de forma sorrateira, através de falsos sorrisos e cortesias interesseiras, numa concordância superficial que alimenta a intolerância que mesmo disfarçada, vez por outra, extrapola e se mostra nua e crua, na sua mais autêntica originalidade.
Dizemos que a nossa luta é em prol de uma melhor e mais completa educação formal e que todos deveriam ter os mesmos direitos, mas ao mesmo tempo, crucificamos a todos aqueles que tiveram a chance pessoal dela usufruir, como se fosse pecado mortal ou infração gravíssima, saber traduzir seus talentos através dos conhecimentos adquiridos, assim como, abrimos universidades, facilitando os ingressos, mas solapamos o ensino fundamental que deveria ser o alicerce sólido de futura qualificação e real caminho para a liberdade de escolha pessoal.
Apontamos os dedos e afiamos as nossas línguas em acusações imediatas a qualquer um que tenha derrapado pelo caminho de suas vidas pessoais ou profissionais, mas idolatramos astros e estrelas que os mesmos fizeram, jogando por terra todas as oportunidades que lhes foram oferecidas.
Acusamos de perdida a postura dos políticos de nosso país, mas defendemos com todos os nossos recursos pessoais as falcatruas que os mesmos produzem e que de alguma forma nos beneficiam, mesmo que seja emocionalmente, pois, com eles ou através deles, obtemos alguma luz pessoal, nos tornando visíveis em um sistema em que nos sentimos, tão somente estatísticas.
Tenho orgulho de minha cidade e tudo farei para preservá-la, mas coloco na urna o meu voto para o farofeiro incompetente, o ladrão intermitente ou para o incapaz bonzinho, não esquecendo de registrar filmando ou fotografando, somente o belo, tão somente, para esconder o feio e o puído, mantendo-o na condição de esquecido.
Somos os progressistas promissores, que flamulamos bandeiras, sem nos preocupar em conhecer as suas reais histórias e, ainda, jogamos pedras naqueles que se esforçam em conta-las.
Mas somos os tais...
Mesmo estando em meio a um atraso gigantesco em todos os níveis, mantendo uma miséria assombrosa, assim como uma aterrorizante violência, não esquecendo que somos ignorantes em quase tudo, mas metidos a espertos na mesma proporção sem precedentes, pois, não somos sequer capazes de manter com dignidade e respeito nossas tradições locais e, muito menos, o solo bendito em que pisamos
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