De repente,
todo mundo está preocupado com aqueles que precisam até mesmo dormir nas filas
da Caixa Econômica, a fim de sacarem seus salvadores seiscentos reais e, também,
não medem desaforos e chingamentos a estas e a todas as demais que enfrentam os
ônibus, Metrôs lotados ou se colocam nas calçadas vendendo suas bugigangas,
como se fossem todos uns imbecis, não é mesmo?
Leio nas
redes sociais, assim como ouço nos noticiários, os espertos repórteres, médicos
e especialistas condenando estas pessoas, como se as mesmas, tivessem
alternativas.
Mostram
propagandas de higienização das mãos com sabonetes espumantes e torneiras
esmaltadas, desconsiderando que a estrondosa maioria dos brasileiros, além de
não terem este hábito saudável, pois residem em casebres desumanos, muitos nem
banheiro possuem e sequer, muitas vezes, tem água nas torneiras.
Estas
figuras humanas que engrossam as estatísticas populacionais, não são notadas em
suas mais primárias necessidades, mas de repente, precisam ter a expertise sobre
como se conduzir em época de pandemia, enquanto, nós, os sabichões que tudo
possuem, nos esquecemos que todos sempre sobreviveram de uma forma ou de outra
a uma constante pandemia, chamada pobreza, imposta por uma sociedade hipócrita,
que nada além de migalhas, sempre ofereceu a elas.
Essas
criaturas estão acostumadas ao enfrentamento contínuo em suas realidades de
todo tipo de mazelas que se não mata, aleija, deixando nelas a bruta marca do abandono,
como eram marcados no passado os escravos, nos porões das senzalas.
São tão resilientes
e absurdamente resistentes que ainda não vi ou ouvi qualquer estatística da
COVID 19, no Morro do Alemão, na Rocinha, na Cidade de Deus, na favela de Higienópolis
ou em qualquer outra imensa comunidade por este país afora, onde geralmente
falta de tudo, principalmente, respeito dos governos e políticos bonzinhos que
até garantem ter acabado com a miséria brasileira, fuleiros sempre de plantão que insistem em não largar o osso, cujo tutano
saudável, os mantém no poder de pai para filho.
Somos todos
uns calhordas que nada sabemos a respeito do verdadeiramente não ter e não
poder quase nada, além de dançar, cantar, beber, transar ao som dos paredões ou
de qualquer trio elétrico, pois, somente nestes momentos eles se sentem
existindo e ainda não podem esquecer da camisinha e da pílula?
Daí, o
sucesso sempre crescente do carnaval e dos alucinados paredões, onde vão à
desforra, ocupando as ruas dos guetos a que pertencem e que se sentem donos.
Portanto,
CODIV 19 é pinto, se comparado à rudeza de seus cotidianos, sem que possam fazer
quarentena, pois estão permanentemente entre traficantes e a polícia, o medo e
a fome, com a certeza absurda de que estão absolutamente por conta própria.
Dividimos a
sociedade em fatias e determinamos à cada uma, as suas rações, esperamos então
o quê?
Deixemos de
ser vergonhosamente hipócritas com nossas caridades pontuais, porque o que de
verdade queremos é que essa gentalha não espalhe a doença e que não venha a nos
infectar, e não se enganem, eles bem sabem disso.
Pois do
contrário, com toda a nossa sapiência, há muito, já teríamos virado o jogo
deste cassino nacional, onde de um jeito ou de outro, sempre nos damos bem, nem
que seja na vaidade ignorante, mas suficientemente arrogante, para hastearmos
bandeiras que sabemos ser rotas.
Porque,
afinal, não somos espertos, contumazes sabichões?
Deus, onde
estás que não te encontro?
Que
humanidade é essa que inventastes, no afã de criar a perfeição da vida?
Falhastes
feio nesta empreitada, meu pai bendito.
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