Nesta manhã, mais do que nunca, acordei a pensar no quanto a vida, a universalidade, ou seja lá o que for, esteve ao meu lado o tempo todo. Prefiro crer que tenha sido ação divina: um constante exercício de empurra e estica entre dores e frustrações que pareciam fatiar-me, e as incríveis alegrias que me abasteciam de esperança, mantendo-me ocupada, impedindo-me de sofrer e lembrando-me do poder de degustar por completo as fascinantes experiências existenciais, raras para alguns, inexistentes para a maioria, mas absolutamente sorvidas por mim, em formas e ocasiões surpreendentes.
Quando jovem, ainda questionava esta ou aquela perda, logo após a entrega de um majestoso troféu. Mas, com o passar do tempo, fui compreendendo, entre as alternâncias, que o milho que eu saboreava até o sabugo deixava em minha boca o delicioso sabor de “quero mais”, impedindo-me de desistir e, muito menos, de lamentar. Afinal, já o comera em tantas outras ocasiões que certamente, em algum outro lugar, o encontraria cozido, macio, e à espera apenas da manteiga e do salzinho na medida certa para encher-se de sabores e prazeres.
Penso então que, se Deus adentrou em mim sem pedir licença e abasteceu-me de um tudo mais que, por algum motivo, privou a outros e, da mesma forma, achou-se no direito de testar, por todo o tempo, a cepa pela qual me criou, eu lhe mostraria o quanto sou osso duro de roer no enfrentamento dos seus, muitas vezes, cruéis e abusivos testes de resistência.
Pois é... enquanto escrevo, sorrio, e até posso senti-lo sorrir também. Afinal, ele, incansável, não me poupa e eu, tenaz, não me curvo. E neste duelo de gigantes, ambos vencemos, por amor à vida e a tudo de bom que semeamos um na companhia do outro.
Simples assim?
Claro que não.
Mas é bom demais poder sentir o suco morno da vida escorrendo pelos cantos da minha boca, enquanto inunda a minha alma de prazeres inenarráveis.
Regina Carvalho — 11.11.2025, Tubarão, SC

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