Acordei com três palavras no peito:
sentimento, crença e ética.
Três fios soltos no silêncio,
mas que a vida, sábia, entrelaça
quando lhe dou tempo para falar.
Caminho sem dogmas,
mas cheia de mundos por dentro.
Sou feita de afetos antigos
e da vontade teimosa
de entender a verdade inteira
que vive na palavra ética.
E, no entanto, tropeço.
Sou breve onde queria ser longa,
divago onde queria ficar.
E nesse espaço que deixo vago,
muitos procuram deuses nos céus,
esperando milagres
que talvez nunca desçam.
Eu procurei noutro lugar.
Nos passos que dei,
nos desejos que tentei moldar,
nos acertos e desenganos
que me ensinaram a consequência.
E ali, numa dobra do tempo,
descobri que a minha consciência
é um Deus incorruptível,
que não julga para punir,
mas para mostrar caminhos.
Ela escreve em mim
a nota secreta das escolhas:
ora rios de calvários,
ora mares mornos de paz.
E quando a entendi,
quando a ouvi sem medo,
as culpas dissolveram-se,
os receios baixaram as armas,
e pude enfim caminhar
entre hortênsias perfumadas
milagres ou apenas
o eco natural das minhas decisões.
Sou, afinal,
o templo silencioso
onde habita o Deus que sou.
Regina Carvalho- 23.11.2025 Tubarão SC

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