Cá estou de volta ao meu cantinho em Tubarão e, de tão cansada, acabei por adormecer no sofá com a televisão ligada, hábito adquirido ao longo dos anos de convivência com o meu Roberto, que me fazia cafuné enquanto assistia às suas séries preferidas.
A diferença é que, depois, ele me guiava, ainda dormindo, e me ajeitava na cama. Como não sentir saudades?
Penso então na sorte que tive, quando ainda menina, enxerguei nele o amor da minha vida…
Penso também no quanto foi fundamental ir aceitando as nossas imensas diferenças, guiada pela sempre presente intuição que me sussurrava para privilegiar as suas infinitas outras formas de ser, que simplesmente me encantavam e me acolhiam como um cobertor quentinho de afetos e amparos emocionais.
Impossível não lembrar do quanto, mesmo me irritando, ele ainda era capaz de não deixar esfriar ou morrer, as emoções vibrantes que nos uniam.
Impossível não ceder às suas vontades, desde cozinhar as suas intermináveis invenções gastronómicas, até assistir às corridas de Fórmula 1 aos domingos, enquanto o Senna foi vivo e eu detestava o barulho dos motores ou seu recorrente whisky já que, com as minhas vontades e manias, ele sempre foi impecavelmente paciente.
Dividir espaço físico e emocional não é tarefa para os fracos e muito menos para quem só visa o prazer, o lucro e os sorrisos fáceis.
Essa é uma contabilidade que exige atenção e rigor na somatória dos ativos e passivos, além de absoluto controle das entradas e saídas, para que, a cada dia, mês e ano, o balanço feche, na maioria das vezes, no bendito “verde” das compensações.
"A saudade é o recibo de tudo o que valeu a pena."
Regina Carvalho – 16.11.2025 – Tubarão, SC

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