quarta-feira, 19 de novembro de 2025

Que amor é esse, meu Deus?

De súbito desperto,

e num gesto leve, quase vento,

elevo o braço ao amanhecer.

Minha mão esquerda dança no ar,

como se o mundo coubesse

entre o abrir e fechar dos meus dedos.

Oh, maravilha que somos…

Basta olhar a nudez simples das mãos

para entender que nelas vive um templo:

força, delicadeza e destino.


E tantas vezes esquecemos

o milagre que carregam.

Enquanto as contemplo, enamorada,

os pássaros, em festa, batem no vidro,

trazendo risos de asas,

avisando madrugadas frias.

E eu, obediente à música do dia,

puxo a colcha com minhas fiéis companheiras.

Novembro declina, mais um ano se despede,

e recordo a vida inteira a passar

pelas pontas dos meus dedos:

folheando livros, escrevendo o mundo,

dedilhando sonhos em teclas,

segurando canetas que me revelaram.

Com essas mãos, acolhi meus filhos,

toquei o homem que amei,

acariciei quem a vida me deu por graça.

Nelas escondi meus medos,

nossos segredos,

e enxuguei lágrimas,

 as que doeram e as que brilharam.

Estas mãos vestiram meu corpo,

calçaram minha vaidade,

lavaram a casa onde habito:

eu mesma.

E também cozinhou meu afeto,

transformando amor em cheiro e sabor

para os que guardo no peito.

Com estas mesmas mãos, bati portas,

ergui fronte, firmei voz,

num mundo que me queria pequena

quando minha alma buscava horizontes.

Que amor é esse, meu Deus,

que coube em dois pequenos membros

tão cheios de vida?

Mãos benditas, que agora se juntam

num gesto doce, simples, eterno:

um beijo enviado a você,

alma linda que me lê

e me acompanha nesta noite.

.

(poema inspirado no texto de Regina Carvalho, escrito em 18/11/2021)

Regina Carvalho-18.11.2025 Pedras Grandes S.C

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