Já faz tanto tempo, mas pra mim, é como se tivesse sido ontem, podendo ainda sentir o coração insistindo em sair pela boca e as pernas bambas, diante do diretor comercial do Diário de Brasília que, ao contrário do monstro que eu imaginara, era simpático e cordial.
Hoje, 53 anos depois, relembro o fascínio que aquelas instalações exerceram na ainda garota com a alma de borboleta, desejosa e temerosa no enfrentamento de seu primeiro voo.
Ah! Deus como voei entre as pranchetas da redação, da paginação e diagramação, bisbilhotando e absorvendo vorazmente cada detalhe do funcionamento daquela máquina de engrenagem humana que produzia e a rotativa imprimia, numa parceria que aos meus olhos, mais parecia um poema diário, pelo qual, fui me apaixonando.
Pois é...
O tempo passou e cá estou, escrevendo e sorvendo como uma cronista, as impressões do meu cotidiano, oferecendo nos textos, a minha mais fiel interpretação do visto e sentido, sem me deixar corromper, falseando a realidade que se apresenta, apenas, adicionando nas avaliações do sistema, pitadas de humor e uma dosagem indispensável de humanização.
E aí, penso que como escrevi na manhã de ontem, “Nada é por acaso,” portanto, me tornar uma cronista, foi o resultante de infinitas e variadas leituras de “gente grande “como; Rubem Braga, Carlos Drummond de Andrade, Fernando Sabino, Nelson Rodrigues, Luis Fernando Veríssimo, Lya Luft e muitos outros do século passado e contemporâneos.
Concluo que saboreei “a sopa no mel” em cada redação por onde passei, em cada leitura que degustei.
E aí, indago-me onde estarão nos próximos quinze ouvinte anos os cronistas e os leitores, se nossa juventude está a cada dia mais induzida a escrever resumidamente e os leitores optando pelas imagens?
Onde e como estarão os leitores no campo das referências informativas, na formação de seus sensos críticos e das analises amparadas nas variadas visões ora poéticas, críticas, humoradas, filosóficas, sociais e humanas?
E os cronistas, existirão num mundo de pressa e indiferença?
Regina Carvalho- 2.7.2025 Itaparica
EM TEMPO: A expressão "sopa no mel" significa algo que acontece de forma muito fácil, agradável e conveniente, como se fosse desejado.
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