Antes de mim, três outros já haviam sido derrotados nas negociações com o poderoso “Senhor,” proprietário da maior rede de cinemas de Brasília, portanto, eu era apenas, uma última cartada de meu diretor comercial que disse; de repente, vai que a sua inexperiência o comova.
Sim, aquela foi a minha primeira missão como publicitária, desafio que se fosse vencido, me renderia a exclusividade de uma página diária, o que era um incentivo incrivelmente rentável e aí lá fui eu, sem a menor noção do que me aguardava, deixando para traz, uma equipe sacana de colegas homens que se regozijavam antecipadamente com o meu fracasso.
No início dos anos setenta, mulher jovem e bonitinha, sofria na área profissional, ninguém dava nada e se pudesse, ainda atrapalhava ou tentava ridicularizar como estava sendo no meu caso.
As pernas tremiam, o ar faltava, as mãos estavam geladas e a mente dizia enquanto, eu subia a escada em caracol, amparando-me no corrimão e ouvindo a voz firme e agressiva de um homem, falando com alguém no andar de cima.
De repente os degraus já não existiam e diante de mim, lá estava o “monstro “que me perguntou visivelmente irritado, por estar sendo interrompido: E a senhora, o que deseja?
Meu primeiro impulso foi sorrir e em seguida me apresentar o que imediatamente através de um gesto, me fez segui-lo até o seu pequeno escritório, onde ainda de pé, sem sequer olhar para mim, discou para o meu diretor que também era seu amigo pessoal e lascou a minha primeira desqualificação profissional.
-Ivo, se pensa que mandar moça bonita, vai me dobrar, errou feio...
Resumindo, depois de quase duas horas de negociações, onde mais calma, expus preços e condições estéticas da página, fechei o meu primeiro e maior contrato para o Diário de Brasília.
Tempos depois, ele me afirmou que o meu sorriso, foi a razão dele me receber, pois, estava a ponto de enfartar.
Pois é, lembrando deste fato marcante de meu início profissional, fixo-me no apenas sorriso, hoje em dia, raros ou artificiais.
Penso então, que num tempo em que a agressividade se espalha como fogo, um sorriso sincero pode ser o balde de água fria que apazigua. É pequeno, mas poderoso. Não resolve todos os problemas, mas pode impedir que muitos comecem.
O sorriso não grita, não acusa, não impõe — ele convida. Convida à escuta, ao diálogo, à empatia. No meio de uma discussão, um simples sorriso pode dizer: “Estou aqui, quero te entender”.
E o mais bonito? Ele é contagiante. Num mundo onde tudo parece urgente e tenso, sorrir é um ato de resistência e de esperança.
Sorrir não custa, mas transforma. Que não nos falte coragem para espalhá-lo, mesmo nos dias mais cinzentos.
Regina Carvalho- 7.7.2025 Itaparica
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