Durante décadas repetimos, como um mantra: “O futuro está nas crianças.” Dizemos isso em discursos, em campanhas, em datas comemorativas, mas será que acreditamos mesmo nisso?
Porque, se acreditássemos, o mundo já teria mudado. Estaríamos investindo pesado na educação emocional, na empatia, no respeito a vida...
Estaríamos cultivando nas escolas não só matemática e português, mas também o respeito, a curiosidade e a criatividade. Não prepararíamos as crianças apenas para os testes, mas para os desafios da vida em seu cotidiano.
Na prática, o que fazemos? Jogamos sobre elas o peso de um mundo que nem nós conseguimos resolver. Esperamos que “consertem” o planeta, mas não as ensinamos a cuidar nem do jardim da escola. Esperamos que “melhorem a humanidade”, mas seguimos a reproduzir violências dentro de casa, nas ruas, nos meios de comunicação.
Dizer que o futuro está nas crianças é fácil. Difícil é encarar que o presente ainda está nas mãos dos adultos e que somente nós, somos responsáveis por lhes dar ferramentas reais para que esse futuro seja, de facto, diferente.
A criança de hoje, vivencia um mundo sem tempo para brincar, sem calçadas para interagir com os vizinhos, sem espaço para sonhar, sem adultos que escutem com o coração, afinal, ela é a mesma que amanhã vai decidir se repete ou transforma tudo isso.
“O futuro está nas crianças.”
Penso que enquanto repetimos, “O futuro está nas crianças.”
o presente escorrega pelos dedos.
Dizemos que são sementes, mas as lançamos em solos rachados.
Dizemos que são esperança, mas as alimentamos com pressa, medo e silêncio.
Ensinamos a competir antes de cooperar, a vencer antes de sentir.
E depois, nos perguntamos por que o mundo continua igual e cá pra nós, cada dia mais violento e insensível…
O futuro está nas crianças, sim.
Mas quem está nas crianças?
Estamos nós, com as nossas incoerências, ausências e exemplos quebrados.
Está um sistema que lhes rouba o tempo de brincar, de perguntar, de ser.
Talvez seja hora de parar com a frase pronta e começar a preparar a infância com coragem, presença e verdade.
Porque o futuro pode até estar nas crianças.
Mas o agora… o agora é todo nosso.
Então, talvez devêssemos inverter a frase: “O futuro das crianças está em nós.”
Regina Carvalho-28.7.2025 Tubarão S.C
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