quinta-feira, 3 de julho de 2025

PAREDÕES X VIOLÊNCIAS

Um novo amanhecer e uma nova reflexão e neste, lembro de uma certa noite em que debruçada na janela do apartamento em que morava, próximo à Fonte da Bica, região considerada nobre de Itaparica, fui surpreendida com um som que eu diria alarmante, pelo volume e pela mensagem de letra chula, com refrão repetitivo, um verdadeiro caos sonoro e ensurdecedor, vindo de um bairro vizinho.

Coisa de louco!

Descobri na manhã seguinte, tratar-se de um “paredão” que se repetiu em outros finais de semana, instigando-me a pensar a respeito dos possíveis e danosos efeitos nas mentes das crianças e adolescentes, correlacionando-o com a violência sempre crescente e já estabelecida em todas as áreas da convivência humana, afinal, quem acompanha os meus escritos ou já leu um dos meus livros, bem sabe o quanto me preocupo com a formação mental, psíquica e emocional das crianças e aí, fui pesquisar as conclusões de alguns renomados centros de estudos mundo afora, buscando validação às minha ideias a respeito.


A música é um mecanismo que forma e deforma, a depender de seu conteúdo.

Paredões ou similares, produzem som que impõe presença, que invade sem pedir licença, que vibra no peito mais pelo excesso do que pela melodia. No meio daquele barulho, há uma criança que dança.

Ela não entende bem as letras que ecoam, nem percebe o conteúdo que lhe chega aos ouvidos — escrachado, erotizado, agressivo, fragmentado. Dança porque aprendeu que isso é festa, que isso é rua, que isso é identidade, mas, no fundo, o que está sendo construído ali vai muito além de passos e ritmos: é a formação da sua sensibilidade, das suas emoções, da sua visão do mundo.

Penso que a violência urbana não nasce só da ausência de políticas públicas e da desigualdade social. Ela também brota do que se canta e se repete, como um mantra sombrio. Quando a infância cresce ouvindo que o corpo é arma, que o amor é posse e que o respeito se conquista pela força, que valores estamos transmitindo? Que psiquê estamos moldando?

A música continua a ser uma esperança, quando bem orientada, quando nasce do afeto e da arte, pode ser refúgio e revolução. É preciso devolver à infância a música que ensina, que embala, que emociona — aquela que forma e não deforma. Porque a cidade já tem barulho demais alienando. O que falta mesmo, é bom senso e escuta.

Regina Carvalho- 3.7.2025 Itaparica

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