Há um ditado popular que diz: "O brasileiro não desiste nunca." Mas, se olharmos mais de perto, talvez o que o brasileiro nunca desiste mesmo é do jeitinho. Aquele atalho disfarçado de esperteza, que começa pequeno, como furar uma fila, não devolvendo o troco que veio a mais ou dar uma nota ao guarda para evitar uma multa, mas que, quando se alastra pelos porões e corredores do poder, transforma-se em corrupção, algo bem mais corrosivo.
No Brasil, a corrupção não é apenas um escândalo de jornais; é uma epidemia estrutural. Está entranhada em esquemas políticos, contratos públicos e favores obscuros. E o mais grave? Já se tornou, para muitos, um facto consumado, um descaramento a céu aberto, amparado pela constante impunidade, uma parte do "sistema” como se fosse impossível governar sem ela.
São notórios os efeitos danosos de cada desvio de verba, cada negociata de bastidores, cada favor comprado com o dinheiro do povo tem consequências reais. São escolas mal estruturadas física e didaticamente estagnadas, hospitais em número inferior as crescentes demandas, geralmente sem as devidas aparelhagens e medicamentos, além das devidas qualificações de seus profissionais, estradas que se desfazem com a primeira chuva e toda uma deficiência em se tratando das obras e ações relacionadas ao ir e vir digno do cotidiano do cidadão.
A corrupção no Brasil não é abstrata, já que mata, engana, alicia, paralisa roubando diretos do presente e do futuro.
Todavia, mesmo constatando tudo isso, o povo se cala. Um silêncio moldado por décadas, senão séculos de desilusões, por um sistema educativo precário que pouco ou nada ensina sobre cidadania e quase nada sobre participação política, sem partidarismos envolvidos. O corrupto exibe seu exemplo de sucesso e quem não deseja sucesso?
A apatia e a cumplicidade não nasceram do nada, já que são tenazmente cultivadas pelo abandono e reforçada através do estímulo, assim como a polarização que empanam grosseiramente, não só os atos corruptos, como a visão de futuro, além de transformarem os corruptos em perseguidos políticos, que se alternam, principalmente em anos eleitorais.
Contudo, insisto há anos que há alternativa. Se o Estado falha em educar, que a sociedade civil assuma o protagonismo com total independência sem que haja um braço apoiado no governo, fazendo prosperar Projetos comunitários, ONGs, escolas livres, coletivos de bairro e iniciativas de educação popular que podem e devem ocupar esse espaço vazio. Ensinar o básico é urgente, mas formar cidadãos críticos, ativos e conscientes é vital. Educar para a cidadania é reacender o sentido de pertencimento e de responsabilidade coletiva.
Combater a corrupção não é apenas prender culpados e sim, formar novos protagonistas sociais. A mudança virá, não dos palácios, mas das praças, das bibliotecas, das reuniões comunitárias. Virá de cada jovem que, ao entender os seus direitos, recusa ser mais um a repetir o velho ciclo do “jeitinho”.
O Brasil só será justo quando for de todos e para isso, é preciso ação, começando por educar de verdade.
E se a educação formal se transformou num “me engana que eu gosto”, que cada professor no seu espaço de ensino, que cada cidadão consciente, seja em família ou profissionalmente, um agente transformador.
Afinal, se o mal corrosivo se encorpa, o bem resistente e promissor, também é capaz.
Regina Carvalho- 5.6.2025 Itaparica
Nenhum comentário:
Postar um comentário