domingo, 27 de julho de 2025

Esquecimento Programado

Desde domingo, as mídias se empenham em homenagear a empresária e cantora Preta Gil de quem, particularmente não era fã, se bem, que reconhecia seu talento e carisma, todavia, suas músicas não preenchiam as minhas necessidades musicais, como tantos outros astros Pop, portanto, meu gosto pessoal, não vem ao caso nesta minha crônica que visa unicamente, fazer um comparativo, afinal, diariamente morrem cientista que salvaram milhares com uma vacina, todavia, quando muito, uma notinha é oferecida pelas mídias e em seguida o silêncio, já que ninguém conhece, ninguém comenta. 

Que ironia: quando parte um ídolo da música ou um astro cinematográfico, as notícias explodem, tomando o tempo e os espaços dos telejornais e das redes sociais e aí, minhas observações de forma alguma são desrespeitosas ao legítimo luto e sim, chamar a atenção, quanto ao que também deveria receber a mesma consideração que certamente, induziria o público ao reconhecimento de grandes e poderosas pessoas que por seus feitos trouxeram incontáveis bens ao planeta e à humanidade. 


Sinto que os choros e os lamentos são como aplausos finais de um espetáculo, largamente divulgado anteriormente pelas mídias que exploram até o último instante, fazendo chorar os olhos, as redes e o algoritmo, levando o público a terem a impressão que o planeta parece parar. 

Penso então: O que nos comoverá amanhã? O que viralizará? 

Não é mais a grandiosidade dos feitos, mas o volume do eco nas plataformas. A fama virou filtro: só importa quem a luz do palco alcança. Enquanto isso, no escuro dos bastidores da história, heróis de carne e silêncio, seguem anónimos. Gente que criou pontes, curou doenças, enfrentou injustiças, tudo sem um story para contar.

As mídias sociais, com sua fome por atenção imediata, criam uma hierarquia cruel da memória. Quem não gera ibope, desaparece. E assim, seguimos: aplaudindo vozes que nos embalam, enquanto esquecemos mãos que nos salvam.

Talvez seja hora de mudar a lente. De transformar a comoção em consciência. De equilibrar o palco com o bastidor. Porque nem todo herói usa microfone. Alguns usam bata, lápis, coragem ou compaixão.

"O mundo perde um gênio."

Perdeu mesmo?

Ou talvez, só reconheça aqueles que cantam, dançam, desconhecendo aqueles que dedicam décadas a decifrarem mistérios.

Aqueles que não têm fã-clube, mas salvam vidas.

Diariamente. Silenciosamente.

A ironia é doce e cruel:

Fama virou termómetro de valor,

e a humanidade, essa plateia distraída que aplaude conforme a música.

E você aí, amigo leitor…

Já chorou hoje por alguém que não conhece,

mas que mudou a sua vida? 

Afinal, nem todo impacto se faz ouvir.

Alguns apenas… vivem entre nós.

Regina Carvalho- 26.07.2025 Tubarão S.C

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