domingo, 27 de julho de 2025

SILÊNCIO CÚMPLICE

Acordei relembrando da liberdade que usufruí em minha infância e adolescência e também lamentando que foi ali, nos idos anos setenta, que algo começou a ranger nos alicerces da nossa sociedade. O mundo fervia em mudanças, bandeirando paz, amor e as revoluções dos costumes, no entanto, por baixo da bruma psicodélica, um pilar invisível e fundamental começava a trincar: o respeito. A autoridade virou opressora, a família virou opressiva, os valores viraram peças velhas num armário mofado da moral e da ética. E ninguém percebeu que, ao questionar tudo sem propor nada, estávamos empurrando o caos pela porta da frente, deixando-se criar o crime organizado com crachá e paletó., que finalmente chegou às ruas. 


Durante anos, a violência era "coisa de cidade grande". Um problema distante, embrulhado nos noticiários da noite. Mas hoje, o sangue escorre pelas calçadas de cidades onde as portas ainda ficavam encostadas. Nas praças onde se jogava conversa fora, agora esconde-se o medo. A brutalidade invadiu o interior do Brasil com a arrogância de quem sabe que não será barrado.

Sim, o crime, aquele que antes se escondia nos becos da capital, hoje desfila à luz do dia nas pequenas cidades. E não vem sozinho, traz apoio, traz voto, traz campanha financiada por dinheiro sangrento. Há gestores que falam de justiça com uma mão estendida ao povo, enquanto a outra aperta a do crime em seus vários aspectos. As urnas, em muitos casos, estão manchadas de sangue antes mesmo do primeiro voto.

Enquanto isso, nossas polícias são lançadas à linha de frente com fardas gastas e armas desatualizadas. Mal treinadas, mal pagas, mal assistidas, mas ainda assim, são colocadas entre a população e o crime como escudos humanos. O povo, este mesmo povo que sustenta tudo com seu suor, acaba vítima de ambos: do bandido e do Estado que finge proteger.

E as forças armadas, onde estão? Aqueles que deveriam zelar pelas fronteiras, pela soberania, pelos limites da nossa paz? Diz-se ineficaz para cuidar sequer dos limites das nossas cidades, muito menos dos nossos lares. Segue calado, parado, assistindo à marcha da barbárie como quem vê chover do outro lado do vidro.

Enquanto isso, o governo Federal olha para fora. Discursa bonito sobre guerras estrangeiras, causas humanitárias, fronteiras e diplomacias, ignorando o horror que toma conta do próprio quintal. Os brasileiros do sertão ao litoral pedem socorro, mas recebem silêncio em troca. E silêncio, neste caso, é cumplicidade.

Que país é esse que virou as costas para o seu próprio povo? Onde a criança cresce em meio ao pavor, o velho se tranca com grades, e a esperança é vigiada por câmeras?

Talvez tenha sido lá, nos anos setenta, que tudo começou a desandar. Quando deixamos de confiar em quem ensinava, proteger quem crescia, e construir um futuro digno para quem viria. Agora, pagamos caro por isso. Com lágrimas. Com medo. Com vidas.

O Brasil que grita por socorro. E grita alto. Grita por segurança, por verdade, por dignidade. Mas o governo prefere os palcos internacionais, os discursos longos e as causas distantes. Enquanto isso, aqui, o caos finca suas bandeiras nas praças onde antes se jogava dominó.

Talvez, tudo tenha começado disfarçado de modernismo e progresso, mas agora, os gritos dantes sufocados, explodem gritando por reais mudanças que sejam capazes de pelo menos, devolver a liberdade de cada cidadão no seu ir e vir, minimamente seguro.

Penso então, que o desconhecimento do povo de seus reais direitos, fê-lo perder a noção do quanto se curvou a própria miséria existencial, aceitando a propina que chamam de “boca de urna” que favorece seu próprio flagelo.

Enquanto isso, o IDEB se fragiliza de mal a pior, as famílias se descaracterizam e a violência resplandece em berço esplêndido.

Regina Carvalho-27.7.2025 Tubarão S.C


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