Há quem diga que a vida é feita de acasos, encontros e caminhos que se cruzam sem aviso, gestos soltos no tempo como folhas levadas pelo vento. Mas há também quem veja, como eu, por trás de cada movimento, uma direção apenas sentida, uma mão invisível que guia, sugerindo o sim ou o não ao roteiro dos dias. E é nesse sussurro do mistério, mas que está ativo nos animas, no que se inclui, nós os humanos que me ecoa a ideia: o por acaso não existe.
Particularmente penso que tudo tem uma razão, ainda que silenciosa ou aparentemente sem lógica maior de ser. Seja um olhar que se cruza no meio da multidão, a carta perdida que chega tarde, o amor que floresce quando já nada se espera, levando-me a deduzir que nada disso é gratuito, nada disso é mero acaso, daí a necessidade de não banalizar, já que cada momento é um ponto bordado no tecido do destino, mesmo que a princípio pareça apenas um fio solto.
A vida é escrita no seu cotidiano com uma caligrafia que raramente compreendemos à primeira leitura. Às vezes, só o tempo é capaz de decifrar os enigmas. Um tropeço pode ser um empurrão na direção certa; uma ausência, o espaço necessário para algo maior chegar. Há uma sabedoria escondida no que parece aleatório, e um sentido profundo no que julgamos sem explicação.
Negar o acaso é acreditar que universo não é indiferente à nossa presença. É reconhecer que somos uma fração de algo maior, de uma narrativa onde cada capítulo, por mais confuso ou doloroso, contribui para a totalidade da história. E que cada passo, mesmo o dado no escuro, tem o seu lugar no mapa existencial.
Assim, viver como se o acaso não existisse é viver com os sentidos despertos. É ouvir e sentir os sinais, confiar nos silêncios e dar sentido aos encontros. Porque talvez, não sejamos apenas usuários da vida, mas também os coautores de nossa história pessoal, adicionando ou subtraindo de sua narrativa previamente apresentada, os efeitos de nossas ações e reações, com ou sem a adição da alma (refletor incansável de nossas reais necessidades) tudo quanto, o mundo nos oferece como matéria-prima.
Este mistério me estimulou a uma maior percepção dos meus sentidos, cujas funções práticas, foram se tornando a cada dia, mas perceptíveis, tanto em expressões físicas, como emocionais em relação aos prazeres e as dores, inclusive, aperfeiçoando equilibradamente, as minhas intuições.
E ao perceber este rico manancial perceptivo, agreguei-os a minha mente, passando a conviver com eles muito intimamente, sentindo-os como mestres e preciosos guias.
Afinal, a mente é sugestionável, mas os sentidos, jamais...
Simples assim...
Regina Carvalho- 1.6. 2025 Itaparica
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