quarta-feira, 30 de julho de 2025

GRATIDÃO DETURPADA

Nesta quarta-feira, acordei pensando no quanto, nós brasileiros, como pessoas e cidadãos estamos invertendo e faz tempo, sentimentos legítimos e nobres. Vivenciamos tempos em que tudo se move depressa. As mensagens são instantâneas, os encontros são breves, e os gestos... nem sempre são lembrados. No meio dessa pressa toda, a gratidão parece uma pausa quase fora de lugar.

Mas é justamente essa pausa que nos humaniza.

Penso, que gratidão não é apenas dizer “obrigado”. É reconhecer que alguém escolheu partilhar conosco o seu tempo, a sua atenção, o seu cuidado e que poderia não o ter feito. É ter memória do bem recebido, mesmo que ele tenha vindo em silêncio, sem aplausos.


Há quem diga que gratidão se aprende. Talvez, não sei... Tudo que sei é que ela precisa ser sentida e que quando cultivada, transforma. Transforma relações, suaviza mágoas, alarga o olhar. E sobretudo, ensina-nos a valorizar não o que nos falta, mas tudo o que já nos foi dado.

Gratidão não é dívida. Nem deve ser cobrada, nem medida. Gratidão é filha do amor, pois, precisa ser livre, sincera, íntima. É o que sentimos quando compreendemos, lá no fundo, que algo nos tocou e nos valorizou.

É nesses instantes que a gratidão floresce. Sem barulho, sem pressa. Apenas como um murmúrio interno que diz: “foi importante para mim”, afinal, sentir-se reconhecido, nos dias de hoje, é um luxo.

Há uma forma de gratidão que, infelizmente, não é nobre. É aquela que nasce da dependência forçada, alimentada por políticas partidárias corrompidas, que trocam dignidade por favor, direito por esmola, cidadania por fidelidade cega.

Nestes cenários, a gratidão já não é virtude. Torna-se armadilha.

Pessoas agradecem o mínimo porque lhes foi tirado o básico. Sentem-se compelidas a reconhecer o "gesto generoso" de quem, na verdade, apenas devolveu uma fração ínfima do que sempre lhes pertenceu: saúde, educação, segurança, trabalho. São empurradas a aplaudir políticos que, por estratégia, distribuem migalhas enquanto, se banqueteiam do erário público.

É assim que a corrupção institucionalizada vicia o senso de justiça e perverte o verdadeiro significado da gratidão. Ensina-se o povo a ser grato não por respeito, mas por necessidade. E em troca, exige-se silêncio, voto e submissão.

A gratidão autêntica não floresce no terreno da manipulação. Ela nasce do reconhecimento verdadeiro, da liberdade, da partilha justa. Só se pode agradecer de coração aquilo que nos é oferecido com respeito e não o que nos é imposto com segundas intenções, através de discursos e ações calculadas, manipuladoras das carências mais que evidentes.

Talvez o maior gesto de gratidão que possamos ter para com o nosso país seja não aceitar mais esse teatro de favores. Exigir políticas públicas que libertem, não que aprisionem. Que sirvam ao povo, e não aos seus próprios interesses.

Porque gratidão, quando usada como moeda de troca política ou em qualquer outra situação já não é virtude. É sintoma de uma relação viciada e doente que precisa urgentemente de cura.

Regina Carvalho- 30.7.2025  Tubarão S.C

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