Por duas vezes nesses cinco anos em que optei em deixar os meus cabelos branquinhos, decisão que envolveu vários motivos, provavelmente o mais convincente tenha sido a minha preguiça de estar retocando a cada 10 dias, porém, mesmo assim, por duas vezes, fui na farmácia e comprei uma caixa de tintura.
Nunca as usei, mas deixo-as lá para que eu as olhe diariamente e em seguida, mirando-me no espelho, possa alisar meus cabelos e sorrindo como uma verdadeira apaixonada, reafirmar meu amor por eles.
Tudo muito melosamente romântico se não houvesse a brutal constatação que após, esta minha decisão, deixei de ser simplesmente a “Regina” para ser também a “idosa”.
Que coisa, viu!!!
A precipício, confesso que me incomodava, mas aos poucos fui assimilando que as pessoas, enxergam, cada qual, a sua maneira, seja lá, o que for, e que afinal, ser idosa era mais uma etapa de minha vida que PQP, foi um pot-pourri de aventuras que a maioria, sequer é capaz de imaginar e muito menos vivenciar, afinal, nasci no céu, mas visitei o inferno algumas vezes e imaginem, depois, de idas e vindas, fui enxotada pelo Diabo, afinal, nem ele conseguiu me aguentar com esta minha eterna ladainha sobre “o amor e liberdade, vida e aprendizado”, pois, percebeu que eu, era perigosa e poderia influenciar seus mazelentos súditos.
Então, qualificar-me como idosa é apenas, fichinha para uma mulher que o machista de meu pai dizia com o peito estufado de orgulho; minha nega (era assim que ele, se referia a mim),você deveria ter nascido homem, afinal, para ele, somente os homens eram dotados de determinação e vontade própria.
É bom não esquecer que eram outros tempos, mas ainda assim, surpreendo-me com os atavismos avaliativos e comportamentais possíveis de serem constatados nos dias atuais, onde a mulher, infelizmente, ao romper as barreiras das mesmices, são mortas ou achincalhadas até mesmo, por outras mulheres que ainda não conseguiram com dignidade e respeito próprio, soltarem seus próprios grilhões.
Quanto ao Diabo que de tanto medo de mim, vez por outra, manda um de seus escravos tentar calar-me ou frear-me, cá estou, bem amada e sentindo-me plena, fechando mais um ano de vida repleta de emoções como a idosa, velhota, ou seja, lá, como queiram me chamar, mantendo os cabelos brancos, a alma leve e a sensação prazerosa de mais um ano de dever cumprido.
E que venham mais, pois, estarei pronta e animada para não só voar com meus pássaros e borboletas, como refrescar com minha atenção e carinho, todo aquele, que ainda conserva um pouco do fogo do inferno em si.
Se bem que vez por outra, dar uma voltinha pelos arredores do inferno é bom demais da conta, tal qual, dois amantes na beira da praia; “pé na areia, caipirinha, água de coco, cervejinha, nada mais pode ser melhor que o inferno de se amar...
Regina Carvalho- 31.12.2024 Itaparica
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