Sou um porto seguro para mim, meu calado é profundo.
Possuo águas cristalinas de uma incessante fonte que não cessa de jorrar.
Conservo um sol pleno em meu interior, quando lá fora, a tempestade impiedosa insiste em trazer-me o frio.
Disponho de uma matéria flexível que se curva e se dobra ao querer dos impiedosos ventos, não me deixando sequer rachar.
Que temo, se a natureza pródiga se incrustou em mim?
Sou capaz de lavar-me as dores, com as lágrimas da resiliência, assim, como secar as decepções com o calor dos meus sentimentos.
Sou um porto seguro para mim, meu calado é profundo.
Exalo os perfumes dos campos de centeio, quando preciso alimentar a minha mente, assim, como exalo os aromas de um canteiro florido, apenas para perfumar a minha própria presença.
Induzo a mente a sentir os sabores que me satisfazem, quando as carências estimulam o meu paladar.
Conservo na profundeza de meu infinito oceano pessoal, as ricas praias das vibrações da vida, num ir e vir como inquietas marolas emergindo e submergindo, através da minha sensibilidade.
DEUS, que posso querer mais, se tudo tenho, inclusive, um calado profundo?
Ouço os sons de meu paraíso a cada instante, são pássaros, borboletas, grilos, sapos e os farfalhares dos coqueiros a garantirem-me carinhosamente que não estou só.
Neste instante, querendo se expressar, um pica pau se aproxima, desviando a minha atenção destes versos, apenas para me dizer com suas repetidas estocadas no caule ressequido da velha mangueira, que é mais um fiel jardineiro, que morava na casa vizinha, mas que agora, faz uma nova morada, só para mais perto de mim, ficar.
DEUS, que posso eu querer mais?
Regina Carvalho- 2.12.202 Itaparica
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