...é a condição que enxergo na população brasileira no sentido mais amplo da sua configuração, afinal, toda esta violência explicita, crescente e descontrolada se fundamenta num somatório das carências de moral e ética das personalidades institucionais, estruturais, psicológicas e culturais, anulando qualquer senso maior da própria individual existência, colocando-a como protagonista de camadas sociais, calcadas nas mais primárias corridas pela sobrevivência, esteja ela, inserida e configurada neste ou naquele grupo específico da escala da pirâmide social.
A total falta de referências significativas que agregassem valores estruturais que pudessem contribuir para o desenvolvimento de pessoas e grupos humanos, respeitando e agregando evoluções em todos os aspectos e que acima de tudo, preservassem as raízes das histórias regionais em seus modelos existentes nas suas expressivas diversidades, compreendendo tratar-se de um amplo país de território continental que se fracionou.
Na falta, criou-se regionalmente, bolsões fortemente influenciados e estruturados ao longo de sua história, através da inegável e poderosa inserção contínua da influência de culturas externas, totalmente díspares de qualquer realidade concreta de critérios nacionalista, criando-se ao longo de mais de cinco séculos, uma miscelânea com personalidade confusa que fosse possível definir-se como nacionalista e consequentemente, pela falta absoluta de um sistema educacional que despertasse e estimulasse o senso de pertencimento pátrio.
Ainda me lembro que no início dos anos sessenta, norte e nordeste eram outro planeta para os sulistas, tudo por total falta da bendita interação que só começou a existir, através da musicalidade, iniciativas isoladas de jovens artísticas, no entanto, somente nos anos setenta é que se mostrou mais expressiva.
Quanto ao restante, sequer existia e isso, pensando agora, é absurdamente assustador.
É preciso lembrar que para a construção de Brasília, região central desconhecida do restante do povo brasileiro, a mão de obra recrutada foi de nortistas e nordestinos e para a ocupação dos prestigiosos cargos dos órgãos públicos, sulistas eram contratados a peso de ouro e ainda assim, devido as suas qualificações intelectuais e, ao aceitarem as propostas irrecusáveis, foram como se estivessem indo para uma guerra ou onde judas perdeu as botas. Ainda me lembro os almoços familiares de despedidas que eram verdadeiros funerais.
Coisa de louco, analisado sobre os prismas atuais.
Deve-se a Luiz Gonzaga e outros poucos, assim, como o acolhimento artístico paulistano e em seguida carioca, todas as referências de uma parte do país, até então, desconhecido.
No meu caso em particular, apaixonei-me ainda criança, só de ouvir falar da Bahia, devido as visitas frequentes de alguns amigos políticos de meu pai que ao chegarem lá em casa, no Rio de Janeiro, levavam as deliciosas frutas e quitandas que me fascinavam, assim, como fotos e narrativas intrigantes e envolventes de um mundo longínquo e fantasioso de muitos coqueiros, baianas com pulseiras, turbantes coloridos e tabuleiros, mares serenos e mornos, totalmente fora da minha realidade.
Como não me apaixonar pelas carnudas mangas, os cheirosos cajus e os deliciosos quebra-queixos de coco queimado?
Pois é, o tempo passou, a internet chegou e se ela nos globalizou, também foi nos roubando a ingenuidade, a natural elegância de ser postural e estética e cá pra nós, nos enfeiando, formando populações que disputam de norte a sul, deste país varonil, qual, se apresenta mais feia, molambenta, emburrecida, mal vestida, descabelada e esculhambada por metro quadrado, afinal, perdemos a noção de como diferenciar o público do privado, o diferente do esquisito e do mal gosto.
Basta observarmos os noticiários televisivos ou simplesmente, caminharmos pelas ruas de qualquer cidade.
O que é, pelo menos pra mim, um paradoxo surreal.
Que pena! Afinal, somos tão lindamente diferentes...
Regina Carvalho- 22.12.2024 Itaparica
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