terça-feira, 7 de dezembro de 2021

LIRISMO

Incrível, foi esta capacidade em manter um certo lirismo em tudo que já fiz em minha vida, que eu não sei de onde veio e tão pouco, como eu o sustentei, entretanto, ele sempre foi presente, real, determinando a qualidade do meu sentir, fazendo doer até as minhas entranhas se me vejo próxima a qualquer situação que fuja aos princípios básicos de um caminhar mais lúcido, sem jamais perder o foco do belo e do ideal.

Neste instante em que mais uma vez, como uma criteriosa investigadora, esmiuço o meu eu, tentando me conhecer um pouco mais, percebo abismada que só me foi possível suportar tantos contraditórios, justo pelo lirismo que me permitia enxergar as situações com um olhar mais amoroso e ao mesmo confiante de que, se existiam, só poderiam ter o propósito de me aperfeiçoar, já que caminhando com o lirismo, lá estava sempre atrelada a certeza de que a vida era um trilhar de aprendizado e aperfeiçoamento.
Talvez por esta razão, o feio e o desastroso, jamais tenham me contaminado, permanecendo por todo o tempo circulando-me incansavelmente, esperando uma brecha para finalmente me invadir, tirando-me o brilho do belo e a esperança do encontro com o ideal, mal sabendo que o lirismo é uma blindagem poderosa e que só depende de quem a guarda com devoção.
Afinal, nossa mente, baú de nossas vivências, se bem abastecido, torna-se um continente de imensas e diversificadas emoções, capazes de fortalecer o mais ou menos e até, torna-lo ideal, num ciclo de forças acumulativas que foram e ainda são capazes de rechaçarem tudo quanto se torne invasivo e pernicioso.
Neste mundo com sistemas sociais desérticos e hábitos repetitivos, ser uma lírica, foi o meu passaporte de sobrevivência.

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