Hoje
amanheci absolutamente voltada ao meu interior de criatura humana em
descompasso consigo mesma, acreditando haver em algum lugar deste mundo um
cantinho que eu possa chamar de paz.
A mesma paz
que conheço como real e possível, mas que me é impossível estabelecer em minha
existência sem que seja preciso abrir mão dos meus mais profundos sentimentos
amorosos.
Existem
momentos, como o de agora, em que me questiono se tem valido a pena renunciar
ao direito inalienável de viver em paz em função de uma simbiose de medo,
insegurança, covardia, inércia e sei lá mais o quê.
Por outro
lado, deixei o tempo passar sem encontrar respostas ou, talvez, as tenha tido,
mas não consegui ouvi-las ou não quis, por razões conhecidas, mas não
enfrentadas.
Mais uma
madrugada de solidão, onde já não reside qualquer dor, apenas a conscientização
de tempo perdido e falta de perspectivas, num ciclo que só será interrompido
com a morte hora bem-vinda.
Longe de ser
um sintoma avançado de depressão, constato com a lucidez de anos de reflexões
cognitivas, tratar-se de uma absoluta conscientização em relação ao que eu não
mais desejo vivenciar, abrindo espaço totalmente em branco para talvez, quem
sabe, surgirem novas opções.
O importante
de tudo, mesmo que tenha sido um processo longo e doloroso é que, finalmente,
chegou a um término sem traumas e mágoas, ressentimentos ou sentimento de perda
pessoal que justificasse qualquer tipo de arrependimento.
E se em Deus
convencional eu acreditasse, agora seria o momento de dizer que recebi uma
benção divina, mas como meu Deus é tão somente a minha mente, prefiro dizer que,
finalmente, encontrei o equilíbrio na convivência do Deus e do Diabo que a
permearam em conflitos constantes, levando-me a atravessar desertos
ressequidos, assim como vastas matas, num frenesi alucinante, onde não havia
lugar para a paz.
E se a
madrugada foi dantesca como infinitas outras, certamente o dia amanheceu e pela
primeira vez fui capaz de sorver as brisas matutinas com uma sensação imensa de
me sentir um outro alguém, talvez, uma outra Regina que ficou, com certeza, perdida
lá atrás, bem longe, ainda na adolescência, pressionada por um turbilhão de
tudo que também, com certeza, não poderia a ela dar espaço.
Que bom...
Ela ressurgiu do emaranhado de águas
profundas, ainda com folego e acreditando que nem sempre os poços são tão
profundos que não seja possível emergir deles.
Estranhamente,
apesar da madrugada infernal, sinto-me leve, sem fardos para carregar e sem me
sentir responsável por mais nada que ao morrer eu não leve comigo, restando-me
a preciosa vida e, por ela, sorrio, sentindo-me verdadeiramente livre.
E por incrível
que possa parecer em pleno outono chuvoso, minha mangueira amanheceu ostentando
algumas manguinhas coloridas que só agora foi possível serem enxergadas pela
atual Regina, cujos olhos se abriram no reconhecimento do mais além.
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