terça-feira, 5 de junho de 2018

Mais uma madrugada...



Hoje amanheci absolutamente voltada ao meu interior de criatura humana em descompasso consigo mesma, acreditando haver em algum lugar deste mundo um cantinho que eu possa chamar de paz.
A mesma paz que conheço como real e possível, mas que me é impossível estabelecer em minha existência sem que seja preciso abrir mão dos meus mais profundos sentimentos amorosos.
Existem momentos, como o de agora, em que me questiono se tem valido a pena renunciar ao direito inalienável de viver em paz em função de uma simbiose de medo, insegurança, covardia, inércia e sei lá mais o quê.
Por outro lado, deixei o tempo passar sem encontrar respostas ou, talvez, as tenha tido, mas não consegui ouvi-las ou não quis, por razões conhecidas, mas não enfrentadas.
Mais uma madrugada de solidão, onde já não reside qualquer dor, apenas a conscientização de tempo perdido e falta de perspectivas, num ciclo que só será interrompido com a morte hora bem-vinda.
Longe de ser um sintoma avançado de depressão, constato com a lucidez de anos de reflexões cognitivas, tratar-se de uma absoluta conscientização em relação ao que eu não mais desejo vivenciar, abrindo espaço totalmente em branco para talvez, quem sabe, surgirem novas opções.
O importante de tudo, mesmo que tenha sido um processo longo e doloroso é que, finalmente, chegou a um término sem traumas e mágoas, ressentimentos ou sentimento de perda pessoal que justificasse qualquer tipo de arrependimento.
E se em Deus convencional eu acreditasse, agora seria o momento de dizer que recebi uma benção divina, mas como meu Deus é tão somente a minha mente, prefiro dizer que, finalmente, encontrei o equilíbrio na convivência do Deus e do Diabo que a permearam em conflitos constantes, levando-me a atravessar desertos ressequidos, assim como vastas matas, num frenesi alucinante, onde não havia lugar para a paz.
E se a madrugada foi dantesca como infinitas outras, certamente o dia amanheceu e pela primeira vez fui capaz de sorver as brisas matutinas com uma sensação imensa de me sentir um outro alguém, talvez, uma outra Regina que ficou, com certeza, perdida lá atrás, bem longe, ainda na adolescência, pressionada por um turbilhão de tudo que também, com certeza, não poderia a ela dar espaço.
Que bom...
 Ela ressurgiu do emaranhado de águas profundas, ainda com folego e acreditando que nem sempre os poços são tão profundos que não seja possível emergir deles.
Estranhamente, apesar da madrugada infernal, sinto-me leve, sem fardos para carregar e sem me sentir responsável por mais nada que ao morrer eu não leve comigo, restando-me a preciosa vida e, por ela, sorrio, sentindo-me verdadeiramente livre.
E por incrível que possa parecer em pleno outono chuvoso, minha mangueira amanheceu ostentando algumas manguinhas coloridas que só agora foi possível serem enxergadas pela atual Regina, cujos olhos se abriram no reconhecimento do mais além.  



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