Ter fé é ter crença ou convicção em algum dogma, seja religioso ou tão somente filosófico.
Os mistérios, sempre precisaram ter uma explicação para que o humano pudesse acreditar em forças maiores que a si próprio, reconhecendo assim a sua fragilidade em relação ao que lhe parecia fora de qualquer entendimento.
Mais adiante, o ser humano também veio, ao longo de sua história, buscando amparo ao seu espírito, pois foi percebendo o imenso vazio que existia em sua existência, apenas vivenciando a rotina de seu cotidiano, sem que houvesse uma linha agregatória com o universo misterioso que pudesse fazer um sentido mais amplo ao seu ser.
Percebia a necessidade em possuir algo que fosse mais poderoso que ele, justo para que se estabelecesse uma sensação de segurança extra a si próprio, inclusive que o amparasse, justificando principalmente seus dissabores e frustrações, ou seja, tirando em grande parte sua responsabilidade quanto ao sucesso, mas principalmente o fracasso de suas aspirações.
Claro que longe de mim qualquer atrevimento maior em definir o princípio das manifestações de fé, muito porque, não disponho de dados e qualificação específica. Estou apenas fazendo um link dentro do que acredito estar ligado ao sistema social e a formação indutiva que levou o humano a tirar grande parte do seu controle sobre sua própria vida, transferindo sem cerimônia o seu destino a Deus ou Deuses e Deusas que mais se afinassem com as suas necessidades e fragilidades.
O que observo contemporaneamente é uma divisão acentuada entre religião e espiritualidade, que aparentemente é o grande atrativo de qualquer religião que se formou.
Enquanto nas religiões trocam-se hábitos e costumes visíveis, na espiritualidade, busca-se uma reforma íntima.
Nas religiões as criaturas são induzidas a crerem em algo externo e recoberto de mistérios e sobrenaturalidades, enquanto na espiritualidade ela é direcionada a crer em si mesma, buscando reconhecer-se nos mínimos detalhes e conseqüentemente ir alterando tudo quanto vá percebendo não ser adequado a uma vivência mais suave e agregatória de prazeres pessoais.
Na realidade, busca-se em ambas tão somente a felicidade que se expressa de mil formas de acordo com a necessidade de cada uma, mas que podem ser resumidas em apenas três itens.
Amparo financeiro, amoroso e emocional. Enfim, busca-se um bendito equilíbrio existencial.
Entretanto, observa-se que dificilmente as criaturas atingem estes patamares simultaneamente, pois na realidade, apenas focam o que o sistema no qual está inserido mais exige, abrindo uma lacuna e deixando-a sempre desguarnecida na prática, pois afinal, torna-se impossível servir-se a mais de um senhor.
Este particular, o senhor que automaticamente é desprezado é justamente a si próprio, privilegiando então um senhor que pode surgir com identidades diferentes, mas que na prática é sempre um ser intocável e místico, alheio a quaisquer entendimentos que não estejam embutidos em dogmas robotizantes, fazendo com que, através desta postura, nasçam sentimentos de mil formas de apartheid, justo para camuflar o que jamais poderá ser camuflado, que são as necessidades reais e absolutamente individuais de cada criatura.
Observa-se que em algum momento ou por todo o tempo, fora do ambiente religioso e longe da visão de seus pares, a criatura se expõe, deixando eclodir o que foi sufocado em nome de uma pseuda-tranqüilidade que em hipótese alguma encontra eco nas suas posturas e principalmente intenções.
Por que começo o ano escrevendo sobre a fé?
Talvez para que eu mesma não esqueça em momento algum o quanto preciso ficar atenta ao meu equilíbrio pessoal, abastecendo-me por todo o tempo da fé em mim mesma e da responsabilidade de meus atos e intenções.
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