quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

REFRESCOU...

Um pequeno arrepio e, então, puxo a coberta e nela me enrosco.
Quando amanhece, como de costume, abro a janela e novamente o arrepio, e posso ver que ainda chove e sentir o cheirinho de terra molhada.
Nossa, que maravilha!
Penso, respirando fundo, no quanto as plantinhas devem estar felizes por este banho inesperado.
E aí, sorrio lembrando que já ouvi em algumas ocasiões, críticas tipo:
- Que babaquice Dona Regina, falar de chuva e de plantinhas logo tão cedo. Isto é coisa de gente velha que não tem o que fazer.
Penso que pode ser e novamente sorrio; bendita velhice com a qual convivo desde sempre, pois, afinal, que eu me lembre, faço isto sempre.
E de repente, ainda olhando a chuva refrescante, não sei bem porque, lembro-me do Rio de Janeiro e de seu calor quase infernal e de seu povo já nem tão alegre e descontraído como quando eu por lá nasci e vivi.
A violência, as drogas, os novos conceitos sociais, sei lá... Algo mudou no carioca e foi exatamente em sua espontaneidade, infelizmente.
Eu também mudei, e sinceramente reconheço que foi para pior.
Ainda me lembro de meu sorriso franco de carioca de bem com a vida, ainda não tão chamuscada com as constantes queimadas, ainda não tão abusivamente invadida.
Que isto, Dona Regina!
Onde foi parar a Dona Feliz, nesta manhã refrescante de janeiro?
Pois é... Onde foi parar por instantes aquela carioca sorridente que passou toda a sua vida escalando montanhas íngremes, atravessando rios caudalosos e desviando-se de raios poderosos que, teimosos, insistiam em neutralizá-la?
Aonde foi parar nesta altura da vida?
Por um segundo desapareci de mim mesma e nestes breves instantes pude compreender o cansaço que a mim também domina, fazendo deixar fugir o senso bendito de me manter imune às intempéries cruéis que sem pedir licença nos invadem e nos roubam o sorriso, a leveza do existir.
Neste instante, não quero ou não posso sorrir, apenas me dou por satisfeita de novamente ter-me de volta nesta manhã refrescante, onde relaxei tanto que me permiti fugir de mim mesma ou, talvez, deste sistema duro e impessoal que insiste em tirar de mim e afinal do carioca e de todo mundo, o sorriso e o direito de apenas ser.
Coloco os braços e as mãos sobre o meu dorso e o aperto para, com certeza, reter o meu original, cuidadosamente guardado, que constato estar exatamente no mesmo lugar.
Constatando, também, dolorosamente que o que me impede de sorrir é que não encontro nem espaço e tão pouco oportunidade de deixá-la se refletir livremente em meus olhos de tão embaçados que estão diante da absoluta certeza de que, apesar de uma manhã refrescante, eu estou triste por mais uma certeza que já não tenho mais.


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