As chuvas se foram, mas meus narcisos chegaram, lindos, perfumados, branquinhos, contrastando com os verdes do meu jardim.
Enquanto isso, as acerolas em profusão colorem o chão em volta de seu pé, atraindo os pássaros por todo o tempo a manter uma festa de sons, inclusive, fazendo-os esquecer da presença dos quatro cachorrinhos que, apesar de não serem agressivos, lá no fundinho não esquecem que também são predadores.
Mas nem tudo são flores e sabores, beleza e poesia. Ontem, meu Raul, o meu peixinho, morreu.
Há alguns dias, venho observando que ele já não batia as guelras ao som de minha voz quando me aproximava do aquário para dar-lhe as refeições. Também, passou a comer menos e a permanecer quieto a maior parte do tempo.
Senti que ele não estava bem, mas fazer o quê, além de manter o aquário limpinho, comida no horário certo e os nossos papos. Ah! Os nossos papos...
Temi pela sua saúde, acabei perdendo-o. Enterrei-o carinhosamente ao pé da mangueira e, enquanto o fazia, pensava nos instantes inesquecíveis em que trocamos energias que tanto me fizeram bem.
Pensei na complexidade existente na convivência sistêmica e o quanto ela pode nos afastar da naturalidade de outras naturezas que nos são afins e que deixamos passar por nós como se não fossem capazes de nos compreender e de conosco formar uma bendita parceria de vida e liberdade.
Faço de minhas flores, frutos, bichos e do ar que juntos respiramos, um elo de amor à vida que percebo desde sempre me inspirar em meus escritos, sentimentos e emoções.
Também desde sempre percebi que não importava o quanto a maré contrária vivencial viesse a me atrasar, maltratar ou até mesmo me magoar, porque eu estaria sempre nadando no mesmo sentido, parando vez por outra para recobrar o folego, mas resistente e determinada a não desistir, porque, afinal, sempre haveriam os Rauls, Polys, acerolas e narcisos, a me oferecer cores e sabores, brilho e emoção, justificando e iluminando a minha vida.
Escrevi este texto logo cedinho e o perdi com a minha ignorância virtual, mas insistente o reproduzi, claro, com alguma diferença, mas procurando na essência transmitir os meus sentimentos em relação a morte de meu peixinho em contraponto com o desabrochar de meus narcisos perfumados que, agora, ofereço a cada um de vocês.
quinta-feira, 20 de janeiro de 2011
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