terça-feira, 4 de janeiro de 2011

BANDEIRAS SOLITÁRIAS...

Recebo, pelo menos uma vez por semana, e-mails de pessoas que são influentes em suas áreas de trabalho e, além disso, são participativas nas lutas em prol de uma ilha mais adequadamente administrada.

Pelo menos nos últimos anos à frente do Jornal Variedades, pude inúmeras vezes, constatar o esforço dessas criaturas em manter de pé a fé de encontrar eco em suas denúncias e constatações. Entretanto, lamentavelmente, as vi sim, ao contrário do logicamente esperado, ficarem absolutamente sós em suas lutas, sem qualquer apoio real, que lhes fossem dados de qualquer área humana dos dois municípios.

Por outro lado, também contrariando as lógicas encontradas no mundo inteiro, as pessoas por aqui não se unem a favor de uma luta que possa a vir melhorar esta ou aquela condição precária na qual se encontrem.

Tudo parece ser permitido, não havendo qualquer noção mais aguçada de cidadania e, então, explica-se o crescente abandono à todas instituições, tornando o ato contínuo de viver os direitos básicos totalmente nulos, sem que haja qualquer reação de repúdio, inclusive mantendo-se um silêncio cúmplice e doentio em relação aos algozes de tamanha desfaçatez.

O mais impressionante ainda é a omissão, justo daqueles que tiveram a possibilidade de sair para a capital para cursar universidades e que deveriam estar mais conscientizados, assim como politicamente mais engajados em relação às causas sociais dos menos favorecidos que, afinal, são a maioria esmagadora.

É normal dizer-se que a culpa é da cultura. Será?

Vejamos:

Segundo Aurélio, cultura é o conjunto de conhecimentos em determinada área.

Deduz-se então que se salvando as crenças, fraco artesanato e o meio de sobrevivência, como a pesca, não se criou nenhum outro padrão que pudesse ser incorporada a expressão Cultura em todo o seu âmbito, que abrangeria, principalmente, ao que tange a intelectualidade, permanecendo as pessoas em seus meios sociais absolutamente limitados, não absorvendo as infinitas informações disponíveis como TV, Rádio, Internet, ficando estes meios de comunicação restritos a tão somente músicas, programas de auditório, Orkut e jogos eletrônicos.

Seria então mais correto, dizer-se que existe uma falta de cultura que engessa sistematicamente as mentes a uma logística vivencial na qual apenas poucos itens são culturalmente absorvidos, matando, sistematicamente, qualquer possibilidade de desenvolvimento em áreas de fundamentais importâncias, mantendo e criando sempre novas criaturas desassociadas de entendimentos quanto aos seus direitos e deveres, que lhes proporcionariam um evolutivo crescimento intelectual e, portanto, cidadão.

A conseqüência inevitável é a presença da inércia postural e mental, seguida de um servilismo a todo e qualquer agente manipulador, e como a fome é uma constante ameaça, cada criatura, torna-se refém do medo em perder os privilégios adquiridos através de uns poucos que espertamente conseguiram furar o bloqueio da ignorância sistêmica e se lançaram como facas afiadas a ceifar toda e qualquer possibilidade de dignidade do restante, ficando todos os demais, ano após ano, comprimidos no mesmo balaio da cegueira da ignorância.

Esta é uma violência tão brutal quanto as que têm sido combatidas no Complexo do Alemão e demais comunidades do Rio de Janeiro e que tanto nos comoveu, onde armas de fogo ou abusivas investidas de poderes corrosivos, oprimindo e destruindo vidas, tirando a liberdade, razões maiores da existência humana.

Qualquer mudança só ocorrerá, em longo prazo, com a inserção de um sistema educacional eficaz e, em médio prazo, através de gestores e legisladores sérios e comprometidos com o bem público e conseqüentemente de seus cidadãos.

Entretanto, para que esta maravilha ocorra, vozes que se levantam, precisam ser apoiadas, para que os idealismos se transformem em realidades, para que as Itaparicas e Vera Cruzes desse imenso e diversificado país, comecem a ter o direito supremo de se desenvolver, oferecendo oportunidades de vida digna verdadeiramente a todos e não somente o que os olhos dos de fora possam alcançar.

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