Passo a maior parte de meu tempo, seja livre ou não, observando e registrando mentalmente tudo que vejo e sinto, não de forma agressiva ou proposital, mas absolutamente natural, o que há muito deduzi ser de minha própria natureza, que jamais rejeitei e que ainda bem cedo, pelo que me lembro desde os oito a dez anos, através do convívio muito íntimo que passei a travar com a natureza .
Em Guapimirim, junto ao meu riacho encantado de mil sons, também produzidos pela cachoeira que jorrava incansável aquela água geladinha que me fazia a princípio arrepiar e que, logo em seguida, me fazia esquecer do restante do mundo, ficando apenas e tão somente buscando o que naquela época eu não sabia definir, mas que bem mais tarde compreendi que seria a busca de mim mesma em meio à toda aquela grandeza.
Lembro que eu me sentia parte tão integrante de tudo aquilo que não raras foram as vezes em que me vi uma folha, uma flor ou uma das centenas de pedras que ornavam o piso do riacho, nas quais milhares de vezes pisei, sentei e até mesmo me deitei em uma entrega quase que abusada à toda aquela magia que me envolvia e me fazia ser a criança mais feliz do mundo.
Foram dias, meses e anos em que eu aguardei as férias de julho com a maior ansiedade, e também vibrava de felicidade quando na sexta-feira a família resolvia viajar para Guapi. Lá, junto à toda aquela natureza exuberante eu me sentia o centro do mundo e me identificava com tudo que me cercava, principalmente com o barulho constante e desafiador do silêncio.
Fui aprendendo a reconher cada som e fui correlacionando uns com os outros e me maravilhando com a interação que se descortinava diante de mim, passando a ter o entendimento claro da harmonia daquela convivência, onde eu, sem pedir licença na pureza de minha infância, adentrei e me entreguei.
Tantas décadas ficaram para tráz e me é ainda possível sentir o cheirinho da terra úmida, o limo das pedras, que em muitas ocasiões ofereceu-me espetaculares quedas, o frescor da vegetação que envolvia aquele pedaço de éden só meu e que somente alguns poucos raios de sol tinham autorização para também estar lá e, é claro, todas aquelas enormes samambaias com suas folhas gigantescas, disputando espaço com as milhares de outras plantas, algumas atrevidas que exibiam lindas e resistentes flores que jamais me atrevi a retirar.
Quantas lembranças… Quanta vivência… Quantos ensinamentos amorosos recebi da vida …
BOM DIA !!!!
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