quinta-feira, 4 de março de 2010

SOLIDÃO PARTICIPATIVA




Hoje, logo às seis e trinta da manhã, enquanto me banhava neste mar regenerador, como de hábito, deixo meu corpo e minha mente flutuarem ao sabor das suaves marolas que se formam ininterruptas e naturalmente surgem entendimentos a respeito de dúvidas que por alguma razão permacem em aberto .
Sempre questionei o atraso indiscutível das ciências emocionais em relação a tudo o mais relacionado à criatura humana.
A não objetividade esclarecedora das anomalias, assim como o engessamento das avaliações diagnósticas, e o uso cada vez mais abusivo de medicamentos, acredito, transformou-se em uma perigosa acomodação que se camufla através do surgimento prolífero de novas síndromes, oríundas das convivências cada vez mais conturbadas, principalmente nas metrópoles, servindo de ancôra para mil métodos alternativos e pesquisas sérias, mas neste caso em particular, voltadas ao interesse farmacológico, sem que se busque uma uniformidade do desequilibratório emocional, separando-se os de origem genético neurológico.
Naturalmente, posso estar sendo no mínimo injusta com os estudiosos desta área entretanto, escrevo tendo como base o que vejo e constato no dia-a-dia, não só como paciente, que já fui, como tambem através do que sou capaz de observar e pesquisar.
Estas observações se complicam quando constato a inexistência de amparo social aos portadores de alguma anomalia, que não seja tão dolorosamente difícil quanto a doença em si. Não existe qualquer dose mais efetiva de atenção maior a estes pacientes que não seja o trivial, a fim de se cumprir a lei, sem, no entanto, coexistir uma real proteção, entretanto, não poderia ser diferente se analisarmos a saúde pública brasileira como um todo.
O quadro é desolador para o paciente carente e paliativo para o paciente que possua recursos financeiros, sem, no entanto, para ambos, existir uma luz mais brilhantemente esclarecedora no fim do túnel, ficando estes pacientes no mesmo patamar de dependência farmacológica.
A presença de terapias individuais ou de grupo simplesmente não existem, nem em quantidade e muito menos em qualidade, nas políticas de saúde mental pública, ficando a maior parcela da população entregue à própria sorte e aos efeitos medicamentosos, quando oferecidos com regularidade.
Este é um assunto de extrema seriedade, pois afeta diretamente a saúde da convivência das criaturas humanas em todo e qualquer aspecto social.
É preciso que haja um mais efetivo interesse nesta área, através de pesquisadores que consigam se despir do receio em adentrarem em si mesmos, caminho único, capaz de direcioná-los a entendimentos mais lucidamente reais. Porque não é possível se conhecer os meandros das mentes alheias, sem que primeiro se conheça a própria mente e todo o manancial emocional capaz de ser produzido pelos sentidos em parceria com ela, que afinal é a grande e poderosa processadora e arquivadora dos dados recebidos.
É preciso que com o bisturi da vontade voluntária, o pesquisador extirpe o medo, mergulhando fundo em si próprio.
O quadro que ora se apresenta é assustador, se sociologicamente observarmos o estado conturbado em que os portadores de patologias emocionais e neurológicas sobrevivem, seja em pequenas ou grandes cidades, sem que disponham em sua maioria de mínimas condições ditas humanas de apoio terapeutico.
Penso que neste instante, lendo estas minhas afirmações, como ocorreu em outras ocasiões, não faltarão burocratas e até médicos, defendendo seus quinhões, o que acho justo para eles, afinal são seus interesses que defendem, mas quanto a realidade dos fatos, esta é indiscutível se colocarmos um calçado confortável e nos dirigirmos às comunidades prá lá de carentes ou nos postarmos nas portas dos CAPS, criados justo para atender a estes pacientes.
Certamente, os profissionais envolvidos, fazem o que podem e merecem todo o nosso respeito, mas na verdade, fazem bem menos do que poderiam fazer por quase total falta de infra-estrutura.
Ficando a atenção e o carinho pessoal de cada um, como antídoto ao pouco caso generalizado por parte de nossos governantes.
Pois é, enquanto escrevo, pergunto a mim mesma o que afinal tenho com isto, se na realidade crua e nua, não encontro qualquer respaldo, pelo menos naqueles que se dizem formadores de opinião e, de repente, posso compreender que cada um deles, bem antes de mim, chegou à mesma sensação de solidão participativa.

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