quinta-feira, 4 de março de 2010

PURA FELICIDADE

Estou suando em bicas, também não é pra menos, pois são quase meio-dia e acabo de sair do quintal onde como uma moleca sapeca na companhia de meus fiéis amigos, toy, moby e tita, escalavamos os galhos mais carregadinhos dos pés de acerola e amoras.
Que maravilha!
Nesses momentos de pura felicidade, creio que sinto Deus em toda a sua capacidade em se expressar em mim.
Esqueço da idade e me comporto exatamente como um ser absolutamente integrado à vida e penso, então, buscando recordar o número de vezes em que me permiti usufruir deste espetáculo que é a natureza, quando se ofereceu a mim em fartura de seus frutos, na opulência de suas folhas e grãos, na pujança de seus mares e rios com alimentos sem fim.
Foram tantas as vezes, difícil de contar, mas todas registradas em minha mente, em minha sensibilidade e no amor que desenvolvi por tudo que tem vida pulsante.
E aí, nada mais importa que poder sentir este bendito suor, escorrendo pelo meu corpo, como que para lavar-me de tudo quanto precisei vivenciar e que mesmo tanto tempo depois ainda dói, porque afinal, representou a perda de minha inocência e o início de minha luta contra a infestação de tudo quanto eu, já naquela época, sabia que não poderia ser.
Morar em Brasília no início dos anos setenta, tendo pouco mais de 20 anos, trabalhar em jornal, sendo mulher e ainda por cima bonitinha, era uma barra que eu só pude segurar por todo o tempo, porque já tinha ao meu lado um grande companheiro.
Em todos os dias, tudo em que eu pensava era em como sair de lá, sonhava acordada com o que eu mais desejava, que era ir morar em Belo Horizonte, que me parecia uma linda cidade de um conto de fadas, pois ainda naquela época a Av. Afonso Pena ostentava um colar de duas voltas de lindas arvores, que dava a aquela avenida o toque mágico da sedução.
Finalmente, em dezembro de 1975 , lá chegavamos nós, que nesta época já éramos três, pois o meu Luiz Cláudio já havia nascido e estava com quase dois aninhos, representando o melhor que fui capaz de extrair daquela cidade, que me ensinou quase tudo que eu sei e tudo quanto lutei drásticamente para não ser.
Que coisa heim!
Devido a minha profissão, que eu ainda estudava e aprendia, vi-me entre cobras e lagartos, drogas e adultério, mentiras e engôdos, artimanhas diversificadas em meio a uma solidão permanente de convivência, tudo muito diferente do até então vivido.
Há quem diga que a vida é assim mesmo, prefiro crer que não é bem assim, e que de alguma forma podemos direcioná-la de acordo com as nossas apirações e afinidades, alterando ou mudando históricos, nem sempre agradando as pessoas à nossa volta ou ao sistema no qual estamos inseridos, mas, afinal, é preciso buscar o nosso caminho e, para tanto, só dispomos na maioria das vezes de nossas intuições e sensibilidades.
É complicado, se a isto adicionarmos as pressões e cobranças permanentes. Chutar o pau da barraca e tentar e tentar, quebrando a cara, escorregando, emergindo ou submergindo, não são tarefas fáceis e muito menos aplaudidas, mas pode dar certo se somarmos a elas um profundo respeito pela vida e por tudo que ela oferece.
E aí, penso em liberdade e me sinto livre, aliás, sempre me senti livre, até mesmo nos anos setenta, em meio a tantas repressões, covardias e violações, pois passei por elas, sentindo seus cheiros fortes, mas absolutamente imune ao seu contágio, e isto, só isto, já é uma glória, um prêmio, se levar em conta que sempre fui abusada, dona do meu nariz e, já naquela época, com tão pouca idade, já circulava entre os canis de cachorros grandes e em covis de cascavéis.
Que coisa, heim!...

















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