domingo, 28 de março de 2010

NUNCA COMO AGORA

Venho percebendo nos últimos anos que minhas lembranças do cotidiano em que vivi, estão mais vivas e constantes, principalmente aquelas onde existe o registro explícito de convivência social com amigos, parentes ou clientes, quando comparados aos dias atuais, já não fariam sentido por estarem obsoletas, ultrapassadas ou fora de moda.

Seria este um recurso natural da mente racional a fim de preservar valores estruturantes ou tão somente a mesma mente usa deste mecanismo para que eu possa ir assimilando as transformações, mesclando os novos aspectos com mostragens sistemáticas do passado para que eu possa encontrar um meio termo que me satisfaça?

Em momentos cada vez mais frequentes, forço-me à ponderação de que na altura em que me encontro nesta existência, pouco deveria me importar com tais mudanças, já que elas me atingem de qualquer forma e, certamente, jamais conseguirei assimilá-las como os mais jovens o fazem instântaneamente.

Esta desistência induzida, não encontra respaldo em minha mente teimosa, persistente e muitíssimo curiosa, que não abre mão em permanecer bisbilhotando as novas posturas, ora me surpreendendo, ora admirando, ora assustando-me com o volume de informações de todas as ordens, ora me entristecendo ao constatar que existem infinitas formas de entendimentos e que cada um de nós as tem recebido sem qualquer respaldo de amparo explicativo, já que não há tradição e tão pouco conhecedores avaliativos que procedam qualquer tipo de filtragem adaptativa.

E aí me indago como tudo ficará, ou está ficando, se não há encaminhamento, e estamos todos como baratas tontas, indo de um lado para o outro, na tentativa de encontarmos o nosso próprio centro avaliativo e ao mesmo tempo seletivo sem cometermos a estravagância cruel do exercício silencioso do egocentrismo?

Novamente, volto às lembranças passadas e penso no quanto era muito bom ter um pai e uma mãe, uma tia e uma professora a ensinar-me tudo que hoje as crianças aprendem pelas mídias, ou tão somente nas ruas, fazendo de seus aprendizados puras adaptações às supostas necessidades do momento, pois seus papais, mamães, titias e professoras estão tão ou mais confusos, em sua maioria girando em círculos de descompasso existencial na busca cotidiana de acompanhar também suas supostas necessidades, vendidas por todo o tempo através da virtualidade aos seus sentidos, sem se darem conta, ou o que é fonte de meu interesse de observações: acreditando que estão realizando suas funções de orientadores, por se sentirem absolutamente inseridos neste sistema muitíssimo desequilibrado, mas extremamente sedutor.

Será que esta minha avaliação está próxima da realidade ou eu é que não estou me adaptando como a maioria aos novos tempos?

Olho ao redor e sou obrigada a reconhecer que tudo parece absolutamente entrosado, isto também faz-me lembrar que somos criaturas muito bem adaptáveis, o que não significa que estejamos gostando.

Sei lá, neste meu mundinho bucólico de cidade do interior aparentemente tudo vai bem, chegando aos olhos de quem vem de fora a ser considerado pasmacento e, no entanto, nas veias e vasos por onde circulam o sangue nutridor de todos os interesses do município, tudo me parece dramáticamente fora de compasso, se eu for fazer comparativo com os valores que aprendi a conviver lá fora em outros tempos, mas se buscar identificação cultural local, sou obrigada a admitir que tudo vai bem, como sempre foi, e que a evolução que me assusta por aqui não tem influência tansformadora e, portanto, nada que estou pensando faz o menor sentido.

Mas afinal, o que realmente faz sentido, se nos dispusermos a uma dissecação impiedosa?

E então, penso que não dá mais para se pensar em educação escolar sem que haja uma nova postura comportamental, aliada a uma base sólida extraida de valores que não deveriam ter sido enterrados, como, por exemplo, o respeito e o senso de compromisso e reponsabilidade.

E quando falo em resgate, refiro-me a posturas que deveriam ser pinçadas de um passado recente e adaptadas às visões atuais como o desenvolvimento criativo mental, que percebo assustada tem a cada ano se engessado em restritas particularidades, deixando de fora margens extensas de um conhecimento geral, limitando assim de forma assustadora a visão periférica em perdas assustadoras e irreversíveis como um poderoso glaucoma social.

O anonimato cibernético abriu um leque enorme de descompromissos e camuflagens, criando assim uma nova e perigosa sensação de segurança, que abre espaço para as transgressões de todas as naturezas, fazendo com que as criaturas se sintam amparadas em suas impunidades, o que lhes proporcionam uma espécie de poder inatingível, que elas deixam transparecer de forma estúpida e alienada por todo o tempo em seus relacionamentos de qualquer natureza em seus cotidianos.

Observo, cada vez mais apavorada, que a banalização em tudo que se possa pensar, leva as criaturas a simplesmente conviverem com seus contrários sem qualquer entendimento, vendo-os tão somente como diferentes, pois assim lhes é induzido, sem que haja qualquer opção consciente.

Todavia, a olho nú, tudo está maravilhoso com promessas concretas de ficar cada dia melhor, porém, para um observador amoroso, o caos se instalou em todas as esferas, porque o ser humano tem se afastado da afetividade, única emoção capaz de direcionar seu racional a um controle mais equilibrado de suas demais emoções .

Portanto, insisto que o caminho nas escolas é o resgate da criatividade, do senso avaliativo e do reconhecimento individual como bases de aprendizado seguro, que certamente direcionará cada criança a inserir-se com mais lucidez nas transformações cibernéticas e na convivência com os demais, promovendo assim uma mais harmoniosa assimilação de novos entendimentos e, ao mesmo tempo, preservando determinadas tradições posturais que são frutos de uma inegável necessidade social de convivência, que é justo aqueles velhos e arcaicos procedimentos fraternos de respeito, consideração e sentido de limites pessoais.

Porém, como colocar na prática de novo esta prática, sem se tornar um fanático retrógado, condenador ignorante da natural necessidade evolutiva, copiador medíocre de modelos antigos com retoques modernistas e sem qualificação didática?

Nesses instantes de profundas dúvidas, que divido com meus amigos, em sua maioria virtuais, reconheço-me incapaz .

Como pode haver evolução em meio ao caos?

Não creio que se tenha notícias de um número tão expressivo de profissionais incompetentes em todas as áreas, assim como de presidiários, sem esquecer do uso absurdamente crescente dos ansiolíticos e antidepressivos e do flagelo das drogas, que tem enlouquecido as sociedades e servido de vergonha a todos nós que com ela tem convivido, como prisioneiros e co-responsáveis.

E ainda tem gente pensante que defende a anarquia, jogando por terra valores inestimáveis em nome de um progresso que até o momento tem flagelado mais que amparado, abandonado mais que protegido, cobrado mais que oferecido.

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