segunda-feira, 22 de março de 2010

DONA HILDA, MINHA MÃE

Hoje, até o momento, ainda não choveu, o sol está pleno, brilhante, crendo eu que este dia maravilhoso é em homenagem à minha mãe, que se na terra estivesse, estaria completando 90 anos.
Fazem quarenta e um anos que não a vejo.
Ela se foi como num passe de mágica, envolta na grandeza do que representou como pessoa, deixando-me atônita, absolutamente perdida.
Precisei de muitos anos para encontrar um pouco de compreensão em relação a morte, que até então, para mim, havia sido cruel, pois roubara minha mãe, deixando-me sem âncora ainda tão jovem.
Ao pensar nela, lembro de seus cabelos negros e lisos, tombando teimosos sobre seu rosto moreno dourado.
Como era bonita, esta minha mãe!
Como era firme, trabalhadora, inteligente, rigorosa e dócil.
Jamais me esquecerei de vê-la nadando nas águas da praia de Ipanema com a naturalidade de quem tinha muita intimidade com aquele mar bravio, despertando em mim, uma profunda inveja e ao mesmo tempo orgulho, porque sabia que os outros também me invejavam por ter uma mãe tão corajosa nadadora.
A mesma coragem ela apresentava diante dos pés de cajú, que ela escalava como se um moleque fosse, arrancando de meu pai xingamentos por considerar pura loucura de quem não enxergava a idade que tinha, dizendo ele, sempre profundamente irritado, pois temia sempre o pior.
Qual nada!...
Ela subia e descia, deixando a formalidade da cidade e se fazendo menina com o rosto brilhante de mulher faceira, que ao chegar na casa de campo se despia do papel de mãe, esposa, e se permitia apenas ser a criatura de espírito livre que, graças a DEUS, herdei um pouquinho.
São tantas as lembranças...
Agora, por exemplo, posso sentir o cheiro inconfundível de seu bife de contra-filé acebolado na manteiga, que ela preparava quando eu chegava da escola. Lá do portão eu já sentia o aroma e, é claro, corria prá comê-lo, mas também corria para não apanhar de seu chinelo de couro, quando por alguma razão minha língua ferina, como ela dizia, ultrapassava sua enorme paciência.
Mãe brava, aquela não era de bricadeira.
Quanta falta me fez não tê-la em milhares de pequenos ou imensos momentos em que precisei tanto de sua atenção, experiência,c arinho.
Muitas foram as vezes em que daria um pedaço de mim para senti-la escovando meus cabelos ou fazendo cafuné enquanto eu descansava após o almoço, hábito diário.
O cheiro e a testura de sua pele permaneceram em mim como escudo amoroso.
Ela se foi e deixou uma garota de l8 anos, recém casada, que pouca ou coisa alguma sabia e que precisou muito, mas muito desta mãe, e que foi encontrá-la em outra mulher maravilhosa chamada ZIZITA, minha sogra.
Revivi com minha sogra o direito de me sentir filha novamente, e pelos 20 anos seguintes, dividimos o carinho da doação, do respeito e do profundo amor.
E ao perdê-la, não cheguei a sentir a dor da solidão, pois lá se encontrava minha linda ANNA PAULA.
Mas que seria muito bom ainda tê-las,ah! seria.
Agora provavelmente a casa estaria movimentada, por que, afinal, ambas eram festeiras e adoravam cozinhar e certamente estariam fazendo mil quitutes deliciosos para a farra de hoje á noite.
Nunca consegui nem tentei subir em um pé seja lá do que for, nadar, nem pensar, quanto mais no mar de Ipanema, mas cozinhar, certamente eu sei, tão bem ou melhor do que elas, pelo menos em algumas "coizitas", mas a Anna Paula, esta não nega a raça e se tornou um misto das duas e, ao fita-la, revejo-as por todo o tempo.

Que lindo consolo!

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