Quando, como agora, o ventinho frio chega em nosso paraíso Itaparicano, não sei você, mas logo eu me agasalho, sentindo o prazer em resistir as investidas repentinas do tempo que atrevidamente, usa e abusa, querendo me arrastar para a sua orgia de prazeres.
Todavia, prefiro ser um voyeur, optando em resistir a tentação de a ele, me entregar sem outras maiores resistências, já que bem conheço as delícias em permanecer enlaçada pelos seus carinhos.
Apesar de querer e poder, sinto que não devo, afinal, há um tempo pra tudo nesta deslumbrante vida eu, não quero correr o risco de me resfriar, pois, me conheço e sei bem da minha falta de limites, quando a questão, envolve entregar-me a ela.
Como limitar minha paixão, se sou uma escorpiana, cujos sentidos, desde sempre foram apaixonados pela exibida e atrativa natureza?
Então, sentadinha na poltrona, preferencialmente, bebericando um bom vinho, enquanto, leio, escrevo ou simplesmente nada faço, como agora, além de apreciar através da janela, a entrega silenciosa do jardim ao safado vento marinho com aroma de maresia, incansável em suas carícias, aliciando folhas e flores, afim de serem possuídas, pela chuva, ora mansa, ora agitada, que o acompanha, enquanto, o verde gramado, a recebe como destino final, permitindo que a terra a sugue, encharcando-se da seiva da vida.
De repente, o repouso, a bendita chuva descansa da paixão desenfreada, enquanto, ainda observando, espero pacientemente, vê-la despertar e retornar ao colóquio amoroso, já que assim, o céu cinzento me garante, afinal, hoje, o sol parece que não terá vez e o jardim, será só da poderosa chuva.
Enquanto, registro a paixão e o descanso da chuva, ela desperta e mais suavemente, já sem a presença do vento, mas contando com a parceria das leves brisas, começa a tocar sem pressa as flores e folhas, deixando-se nelas deslizar para finalmente, cair no gramado, permitindo que a terra desta vez, possa receber a bendita seiva, sentindo-a mais profundamente adentrando em si.
Lindo...
Regina Carvalho- 3.5.2025 Itaparica
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