Chove incansavelmente desde ontem à noite, encharcando o gramado, acinzentando o céu, mas ainda posso escutar os pássaros cantando ou conversando entre eles, escondidos nos beirais dos telhados ou entre os poderosos galhos da mangueira, guarnecidos pelas vastas folhas, abrigos seguros da natureza.
Ouço-os ao longe, enquanto, divido meus ouvidos, já não tão absolutos, com a fascinante Ave Maria de Schubert, sublimemente apresentada por um espetacular piano solo e por uma graciosa soprano, com o poder absoluto de adoçar a minha alma e por extensão a mente, ambas harmonizando meu corpo, o que me leva a pensar, que mesmo sentadinha escrevendo estas sensações, posso quando desejar, alçar voos incríveis e assim, me sentindo, respiro fundo e agradeço a Deus, pelo tudo de bom que recebi ao longo de minha vida que sem poupar, derramou em mim o senso da Divina capacidade da grata adaptação, não por inercia, mas pela capacidade em privilegiar sentimentos, tanto no receber, quanto, no oferecer.
Percebi ainda muito jovem que esta maravilhosa troca, nem sempre ocorria num bate e volta instantâneo, no entanto, também fui percebendo, que infalivelmente, mais cedo ou mais tarde voltava, “sabe-se lá de onde”, mas sempre surpreendendo-me agradavelmente, entre as perdas e os ganhos do cotidiano.
Os contínuos aprendizados, induziram-me a compreender tratar-se do universo, devolvendo o que parecia ter sido doação perdida, como forma sublime de recompensa, afinal, nesta vida, nada se perde, restando no mínimo um precioso aprendizado, mas que era preciso estar atenta aos movimentos ininterruptos da própria vida, valorizando cada brinde recebido, por mais banal que pudesse parecer, guardando-os cuidadosamente no cofre da alma, como pérolas raras e preciosas do meu cordão existencial.
Neste instante, a chuva parou e o sabiá, apressado saiu de seu esconderijo e fazendo apresentação solo como de seu costume, pousou na amoreira, palco mais próximo da janela e abusadamente, chama a minha atenção, com o seu fabuloso bom dia.
Não sei cantar como os sabiás, mas ainda assim, envio minhas energias amorosas para você que me lê.
Regina Carvalho- 13.5.2025 Itaparica

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