Deitei, mas o peito chiava como o som de uma locomotiva, seguida de uma tosse constante o que definitivamente me fez desistir de pelo menos, tentar dormir, até porquê, minha mente insistia em trazer à tona as razões que me fizeram no segundo semestre de 1999, começar a escrever “Luz nas Trevas”, onde um gatilho impulsionador em minha mente, me levou a catalogar cada uma de minhas ações e consequentes reações, dia após dia, num trabalho de registros contínuos que incorporei há tantas outras tarefas do meu cotidiano.
Nessa época com aproximadamente 50 anos e totalmente robotizada com as doses cada vez maiores de Lexotan e a mente e os pulmões embaçados pelas fumaças dos dois maços de cigarros Minister, percebi que precisava me salvar, resgatando aquela jovem repleta de amor a vida que foi se perdendo ao longo da caminhada, afinal, viver não poderia ser apenas aquilo, pois, sentia que poderia fazer mais e desta vez, apenas para mim, sem pensar em mais nada ou alguém.
Pois é, na época sequer fui capaz de mensurar o quanto aquela iniciativa egoísta, renderia em frutos para mim e para o tudo mais a minha volta, porque na medida em que passei a prestar atenção nas minhas ações e reações, fui automaticamente lapidando-as, afim de que me fossem agradáveis ou pelo menos que fossem menos confusas e dolorosas.
Eu precisava compreender aquela ansiedade, aquela inquietação, aquele constante vazio que fizera de mim uma mulher maltratada e infeliz, que violava por todo o tempo a sua própria natureza livre, limpa e repleta de projetos e criatividades. Precisava entender a insegurança e o medo dos elogios e dos aplausos, o terror em ver exposta a minha capacidade de pensadora nata, curiosa contumaz, com sabor de doce de leite cremoso de rapa de tacho, só desejando ser feliz.
Por que, me deixava obscurecer, levando os outros a pensarem que eu era apenas, um penduricalho a mais, sem qualquer maior serventia, além de preparar os baquetes profissionais e familiares, para que os outros se regalassem, arrotando minhas ideias e ideais como se deles fossem?
E assim, persistindo nesta busca interna por respostas, segui registrando e ampliando meus raios de atenções e, espantosamente, percebendo as reações alheias frente as minhas mudanças, afinal, ao me permitir sair da inércia emocional, onde cada qual, se acomodara, também os obrigava a saírem das deles em relação a mim e ao tudo mais.
Pensando agora, que linda caminhada, quantos registros, quantas leituras de pensadores históricos, quantas comparações, quantos desatinos detectados, quanta luz fui deixando adentar em mim...
Dr. Rogério psiquiatra, foi o personagem que criei e com o qual, exercitava uma bendita maiêutica de aprendizado e na sua companhia escrevi, Equilíbrio, Razão e Amor- Morada da loucura, Deus e o Diabo, Transtorno de Dor Social, Bebida Muleta Existencial, numa compulsão avassaladora, já que uma vez destrancada a represa dos conhecimentos, as águas jorravam sem parar, não havendo mais tempo e espaço para dúvidas, medos e camuflagens, afinal, eu não precisava mais temer a vida, porque eu, era a vida.
Todavia, lendo e relendo a vida de Jesus, compreendi definitivamente a grandeza da vida que ele descobriu existir na completude da sua própria e com a clareza do apenas simples, peregrinou a seu modo e a seu tempo, distribuindo aos demais, seu próprio entendimento, sem planejar absolutamente nada, sem se proclamar Rei de nada ou de lugar algum, mas acima de tudo, conhecendo com a nitidez das suas emoções, todas as ações e reações dos demais a sua volta, inclusive, prevendo a própria morte, pois, sabia o perigo que representava aos hábitos comportamentais de sua época.
Apaixonei-me por este Jesus andarilho, cujo maior tesouro consistia em sua capacidade em amar a vida em todos os seus aspectos e apesar de trilhar as terras ressequidas, com o corpo cansado e empoeirado, sua mente e sua alma voavam no universo da vida que começava e terminava, apenas nele.
Ele, afinal, descobrira num trabalho profundo de autoajuda que ele era seu próprio Deus, capaz de se enxergar e se inserir, num tudo mais de profundo, complexo e lindo, chamado de vida.
Graças a esta criatura incrível, continuo escrevendo até o momento, sem qualquer intenção de parar, afinal, inspirar-me nele, mantém-me saudável, positiva, solidária e absolutamente grata, mesmo quando, meu físico se debilita, como tem sido na última semana.
“Mateus 11:27. Ele afirma: "Ninguém conhece o Filho, a não ser o Pai; e ninguém conhece o Pai, a não ser o Filho e aqueles a quem o Filho o quiser revelar.".
Portanto, compreendi que somente a criatura é capaz de mergulhar no âmago de si mesma, liberando a Luz do Deus que lá reside.
Regina Carvalho- 30.5.2025 Itaparica
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