...que antes de mais nada, são mulheres que geralmente, não sabem como começar e muito menos, como devem agir no percurso de suas novas tarefas.
De repente, da expectativa festiva de estar gerando em seu ventre ou tão somente, no seu coração um lindo serzinho, a realidade palpável se apresenta, repleta de necessidades, restando a cada uma delas, ler livros, ouvir parentes e amigas, perguntar constrangida ao terapeuta, sem esquecer de Deus, numa saga de dúvidas, fracassos e vitórias.
Todavia, o tempo passa a lhe ser útil e aí, o mais prudente é seguir sem muito questionar as lembranças de sua própria criação, havendo uma inconsciente negação do momento presente, criando com esta defasagem, no mínimo de 15 a 20 anos, noutras, muito mais, um abismo que pelo resto da vida, precisará de paciência e jogo de cintura para manter equilibrada a ponte de ligação.
Afinal, quando se tira o véu que cobre a mãe idealizada pelo sistema comercial e religioso, o que sobra é uma mulher, geralmente sobrecarregada, sofrida, muitas das vezes, atuando como pai e provedora, absolutamente devotada em seu compromisso amoroso de apenas uma mãe, que vai deixando pelo caminho de sua própria vida, grande parte de si.
Enquanto, a alimentação, a higiene e os paparicos são os focos principais dos cuidados e afetos, tudo transcorre na mais bendita normalidade, até que, a autonomia do rebento começa a ditar mudanças e estas, por incrível que possam parecer, lembram a mamãe, que por mais que ela, achasse que estava preparada, as evidentes realidades, jogam sem piedade, tudo por terra, independentemente de ser ela, de primeira ou décima viagem, porque, afinal, cada filho é uma caixinha preciosa de surpresas.
Fazer então, o quê, se não há cartilhas disponíveis que se molde à cada única criatura gerada neste mundo?
Deste momento em diante, os velhos modelos assumem ou são adaptados, ambos a cada instante, se mostrando, no mínimo, ineficientes, nascendo surpreendentemente, nesta sacrossanta relação, a bendita intuição que a torna uma inveterada jogadora e nestes imprevisíveis jogos de azar, como o pôquer a biriba e o vinte e um, as vezes, se ganha, noutras se perde, assim, como muito, mas muito raramente, quebra-se a banca, mas tudo bem, já que há o consolo de se estar vivenciando a eterna maternidade, repleta de amor...
E com o avental, todo sujo de ovo, como minha mãe ou tantas outras que ainda existem, ou como eu, que vivenciei sem tempo sobrando para chorar pelos medos e frustrações da inegável incompetência, lá vamos vivendo as delícias e os martírios de sermos, tão somente, mães.
Penso neste momento nos meus filhos, Luiz Claudio e Anna Paula, laboratórios de testes e infinitos aprendizados, que fazem de mim, aquela persistente jogadora que com a intervenção Divina, constata no outono da vida, feliz e realizada ter quebrado a banca.
Terá sido sorte de principiante?
Sei não, vai-se saber, não é mesmo?
Regina Carvalho- 11.5.2025 Itaparica
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