domingo, 18 de maio de 2025

SABOREANDO O MEU CAJU

Ontem, fui dormir entristecida e assim, acordei nesta manhã de domingo, afinal, perder um texto, depois de pronto, nas raras vezes que aconteceu, causou-me a sensação de ter perdido um pedacinho do que tenho de mais real e autêntico em minha vida que são as minhas emoções.

Enquanto, os escritores se preocupam com acentuações, virgulas, concordâncias e o tudo mais para apresentarem uma obra dentro dos padrões literários, eu apenas escrevo, deixando fluir meus sentimentos, ciente de que como escrevinhadora  sem eira e nem beira, tudo que possuo de real e concreto desde sempre, foi o meu senso observador, cercado por todos os lados de amor, cuja essência, independentemente de minha vontade, tem em sua constituição a lógica.


Se amo, tem que haver o porquê, amo

Se amo, não pode haver restrições e limites

Se amo, esse amor tem portas e janelas abertas para se expressar

Se amo, levo comigo este amor, sem qualquer ranhura, nas garupas dos pássaros e das borboletas, nos infindáveis voos que me mantém liberta das amarras comuns e sufocantes do sistema.

Pois é...

Ontem, amando como sempre cada detalhe da vida, escrevia sobe a solitude que beirava a solidão, fazendo rodar um filme com cenas que me esclareciam esta vontade própria de estar mais reservada, silenciosa e que ao mesmo tempo, não estavam sendo suficientes para aplacarem uma certa agitação interna, raras vezes sentida, querendo e desejando ardentemente sentir mais que pássaros ou o cheiro da terra que me alimenta.

Eu queria, poder sentir os aromas, as texturas e o sabor de gente...

Então, não podendo, abri a geladeira em busca de consolo e lá estava exibindo seu perfume e sua beleza, um caju, tão solitário quanto, esperando salvação. Peguei-o quase com sofreguidão e o levei as narinas, limitando-me a apenas, sorver o seu perfume como em tantas outras ocasiões o fiz, temendo degusta-lo, por temer a desilusão ou a paixão irrefreável, que sei que sou capaz de sentir por um sabor que me seja compatível.

Não desta vez, afinal, o que poderia ser pior do que, eu, simplesmente não gostar?

Qual foi a minha surpresa, afinal, não só adorei, como não poderia deixar de registrar mais esta conquista fascinante da apaixonada Regininha que comportada, discreta e obediente, escondia em si, uma moleca desejosa em experimentar os inusitados, detectados pelos sentidos aguçados de uma apenas, escrevinhadora.

Penso então, que bastou o ato voluntário de comer um caju, para jogar por terra os últimos vestígios do medo das frustrações, abrindo assim, a fechadura emperrada do último latente receio em assumir que sou o que sou, ou seja; uma porra louca que adora viver e se sentir feliz.

Que neste domingo, o seu caju seja definitivamente enxergado, sentido e, finalmente degustado.

Regina Carvalho- 18. 5.2025 Itaparica

Agradeço ao amigo Dr. Ismar Vilas Boas, por me presentear com este maravilhoso caju de seu pomar. 🌹

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