Penso que num cenário político cada vez mais polarizado, os discursos populistas têm encontrado terreno fértil para prosperar, principalmente em locais de baixa escolaridade e de carências abusivas à dignidade dos cidadãos. Esta é uma das estratégias mais comuns entre os líderes com desempenhos questionáveis, que tem sido desviar o foco das suas próprias falhas, através de ataques sistemáticos aos adversários ou aos jornalistas e comunicadores. Em vez de responderem ao povo, quando questionados a respeito de licitações duvidosas, empresas fantasmas, serviços urbanos pífios e condutas inadequadas em relação aos gastos públicos, blindam-se através do constante silêncio ou nos ataques inflamados, geralmente nos palanques festivos, deixando por baixo do tapete das ignomínias, as possíveis e concretas soluções às dificuldades enfrentadas pelo povo no seu dia a dia, num desrespeito colorido e disfarçado com festas e bandeirolas, optando por transformar o debate público num campo de batalha retórico.
A tática é antiga, mas tem-se intensificado nos últimos anos. A criação de inimigos internos, partidos da oposição, jornalistas críticos, magistrados ou até movimentos sociais, permite a esses líderes atribuírem responsabilidades externas pelos problemas que, decorrem diretamente das suas más gestões.
Analistas políticos apontam que esta retórica funciona como uma cortina de fumaça. Enquanto a atenção pública se concentra nas provocações e confrontos verbais, questões estruturais como o colapso dos serviços públicos e o mau uso do erário público, largamente denunciado com documentos comprobatórios, ficam em segundo plano. Essa é uma forma de manter a base mobilizada e evitar que a narrativa do fracasso se instale.
O discurso populista de ataque tende a fragilizar o debate democrático. Críticas legítimas passam a ser tratadas como ameaças, fofocas e o pluralismo político é substituído por uma lógica de “nós contra eles”. Com isso, o espaço para o diálogo e para o compromisso reduz-se drasticamente, comprometendo a qualidade da democracia, única e legítima arma do povo.
Num momento em que a confiança nas instituições está em declínio, o recurso constante à retórica do confronto pode parecer eficaz do ponto de vista eleitoral, mas deixa marcas profundas na coesão social e na capacidade de governar com responsabilidade.
Isso deveria ser enquadrado como crime de “lesa pátria”, genocídio dos direitos constitucionais, formação de quadrilha com membros que se beneficiam sem constrangimentos com as dores que causam em cada cidadão, incapaz de reagir por medo das ameaças veladas com as associações criminosas, num país onde matar e morrer se banalizou.
Triste realidade num país, onde a miséria, muito além da falta do pão, se espalha e se agiganta.
Regina Carvalho-17.5.2025 Itaparica
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