...nunca mais a Regina “chiou” pra valer com ou sem caneta ou microfone na mão, mas ainda assim, diariamente colocou a cabeça pra fora da janela, saudando a vida no seu despertar, tal qual, o galo do vizinho, tentando chamar atenção para os óbvios que por terem se tornado sistêmicos, poucos os reparavam e praticamente, ninguém com eles se importava.
E assim, silenciosa e recolhida, sobrou-me tempo para pensar em mim, descobrindo-me mais sagaz a cada dia deste envelhecimento, ao invés de tão somente, chiar por um sistema que inegavelmente, deixarei para traz e, egoisticamente, passei a prestar mais atenção no fato irrefreável do meu envelhecimento, que até então, passara batido.
O que fazer com ele?
Sofrer, lamentar, fingir que não o vejo, esconder-me, mergulhando nas profundezas das inutilidades, só para deixar o tempo passar sem senti-lo vibrando em mim ou, buscar meu próprio canto, enquanto, fôlego eu tiver?
Como conviver com esta realidade que percebia que como uma língua de fogo, consumia nem tão lentamente meus instantes e a minha convicção de eternidade, sem ceder as ofertas facilitadoras dos enganos?
Lembrei-me que nasci e cresci carioca, onde galos já não cantavam nos quintais vizinhos, mas as janelas lá de casa, sempre consegui abri-las, só para assistir o sol nascer.
Bendita lembrança que chegou mais que como consolo pela certeza do inevitável, trazendo consigo um tonel dos retornos recebidos ao longo da vida, preciosos mimos, ecos do muito que amei e gosto de amar o belo, que sempre me foi possível encontrar, fosse no que fosse.
Bendita esta, mais que lembrança, por ser essência que, finalmente o silêncio do galo, fez despertar em mim...
Regina Carvalho- 19.2.2025 Itaparica
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