Abro a janela do quarto e lá está mais um dia amanhecendo e trazendo consigo um ventinho mais que brisa marinha, talvez, um anuncio de promessa de chuvinha a caminho.
Será?
Bem que poderia ser, afinal, todo o jardim agradeceria e eu, então, simplesmente ficaria radiante e até, iria lá fora me refrescar, deixando-a deslizar em mim, tal qual, faço em meus banhos no chuveirão, onde além do corpo, banho minha mente e alma, deixando-me bem limpinha...
Enquanto, fui coar o meu cotidiano pingado, sem mais porquê, pensei no quanto, me transformo a cada dia, mesmo insistindo em garantir até mesmo para mim, que sou a mesma.
Qual nada...
Além da visível casca, cujas mudanças, já não tento disfarçar, o tudo mais, segue o mesmo ritmo, apenas, insistindo no padrão ético e estético tatuados em tempos passados, mas até estes, vez por outra, esperam de mim, algum tipo de restauração, mas que fiel, insisto tolamente em manter, tal como antes, mesmo reconhecendo intimamente, já não serem como dantes.
E como poderiam?
Querendo ou não, mesmo esporadicamente, lá estou convivendo com um tudo mais, sempre inquieto em contínuo movimento e mesmo, reconhecendo que a cada dia, fico mais assustada com o que chamam de evolução, ainda assim, lá estou, no mínimo assistindo passivamente, assim como vez por outra, aplaudo e com isso, desgasto a inviabilidade do que acredito ser o melhor de mim, cedendo ao novo, carregado de inéditos que remoldam algo em mim.
Vou escovar os dentes e lavar o rosto e quando, me olho no espelho, lá estou eu, tendo que admitir que nada mais está como antes, então, sorrio, afinal, estou diferente, mas ainda estou por aqui, o que é fenomenal, afinal, a minha vida, incrivelmente no seu todo, cá ainda se encontra, insistente em não mudar.
Alô a alô, Regininha, aquele abraço
O Rio de janeiro continua lindo
Mas foi à Bahia, que me deu régua e compasso
O meu caminho pela vida, eu mesmo traço
Alô a alô, vida louca, aquele abraço!
Regina Carvalho- 6.01.2025 Itaparica
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