Neste momento são seis horas e quarenta e oito minutos de uma quarta-feira, cujo sol já abraça os galhos da frondosa mangueira e abusadamente, deita-se por sobre os telhados sem qualquer acanhamento, garantindo mais um dia de muito calor, brilho e beleza.
Enquanto isso, admiro e penso que preciso continuar a reler os livros que venho escrevendo ao longo de minha vida, oferecendo a mim, também admiração, afinal, se fosse fácil fazê-los, qualquer pessoa seria capaz.
Acontece que em alguns momentos, interrompo a leitura e me questiono, duvidando que tenha sido eu mesma que aos 14 anos, sendo apelidada de “bolhinha”, pois, vivia com a cabecinha no mundo da lua, tivesse sido capaz de escrever narrativas poéticas, onde era abusada o suficiente para questionar o mar ao se encontrar com as areias e os rochedos.
Permaneci silenciosa, mas apaixonadamente narrando as belezas que meus sentidos eram capazes de observar e desconsiderando tudo quanto, os mesmos consideravam supérfluo e desnecessário, o que fez de mim um prato cheio para os arrogantes e oportunistas que sem cerimônias, achavam que abusavam de mim, enquanto a garota, a mocinha e depois, a mulher, seguia viajando em seu próprio caminho de criação, observando, não sem que as fagulhas das maldades, deixassem de ferir...
Hoje, reconhecidamente curada das feridas emocionais, releio cada página, admirando-me enormemente, pois posso identificar os caminhos pontuais que precisei encontrar para a composição de meus próprios remédios, onde somente eu e minhas escritas foram capazes de extrair e formular em meio a dor, aos enganos, as perdas, as inevitáveis frustrações, mas principalmente o melhor que a vida também me oferecia, transformando-as em letras e estas, em elixires de cura.
E aí, mesmo em certa época em que desconhecia o poeminha do contra de Mário Quintana, por pura intuição e preciosas referências pensei e agi, exatamente assim; “Todos esses que aí estão Atravancando meu caminho, Eles passarão… Eu Regininha passarinho”!
Regina Carvalho- 29.01.2025 Itaparica
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