Sou muito esquisita, totalmente fora dos padrões ditos normais, afinal, a contramão é a minha mais constante contravenção penal sistêmica.
Que coisa, viu!!!
Enquanto, a esmagadora maioria dos seres humanos, principalmente as mulheres, tentam, mas raras conseguem disfarçar suas idades, exponho a minha sem qualquer pudor e ainda, acho graça das indiretas menções generosas ou agressivas sobre o fato incontestável de que estou na terceira idade, se bem que acredito deveria chamar-se “derradeira”, afinal, dela, ninguém segue adiante.
Todos os dias me fotografo logo que acordo, muitas vezes, como neste amanhecer, sem sequer trocar a roupa, num adorável narcisismo em constatar-me, lindamente viva e repleta de emoções que pululam em minha mente, ora birrentamente se lamentando por isto ou aquilo, ora regozijando-se com tudo quanto, minha mente atemporal, teimosamente resgata, num misto sofisticado de luz, cores e ações.
Hoje, por exemplo, mais uma vez olhando minha foto na tela do notebook, penso pela milésima vez que eu deveria voltar a tingir meus cabelos, não para tentar disfarçar o indisfarçável, mas apenas para variar a imagem, todavia, imediatamente as sinapses celebrais entram em ação, lembrando-me da trabalheira e o custo da manutenção e aí, imediatamente, desisto até a próxima tentação.
E por falar em tentações, comparo-as com os raios e trovões que desde a infância me fascinam, mas que por prudência deles me abrigo, já que conhecendo-me profundamente, preciso não correr o risco de por algum deles, me ver ferida ou até mesmo destruída, o que vem provar que sou esquisita, mas não inconsequente, conhecedora primorosa dos meus limites.
Concluo não colocando filtros nas fotos e muito menos nos meus sentimentos, já que os considero maravilhosos, reservando cuidadosamente a autenticidade de minhas emoções em relação ao tudo que fascinada opto em curtir. E eu me curto, tanto quanto, o tudo mais que me cerca, sugando sem cerimônias e hipocrisias, as verdadeiras delícias desta vida.
Portanto, se em algum momento eu afirmei, que te amava, acredite, minha alma falou por mim...
Regina Carvalho- 17.01.2025 Itaparica
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